O Espírito obsessor

O Espírito obsessor

Aguardava meu parceiro astral para mais um encontro. Já se passavam das 22 horas de uma noite fria. Aliás, hoje é primeiro de agosto, a lua cheia ilumina de maneira a desentenebrecer a noite. Acendo um cigarro, o silêncio impera…

– Boa noite, demorei a chegar? Ah!ah!ah!ah! Como tem passado?

— Salve minha comadre – a voz que ouvi era feminina, porém, esperava meu velho parceiro, o jornalista do além “A Noite” – bem, muito bem. Esperava outra pessoa, mas reconheço a voz.

– Sim, sou eu, Maria Molambo. Trouxe comigo uma conhecida. Na verdade, nos conhecemos a poucos dias, de maneira quase forçada, se é que me entende. Ela vai esclarecer algumas coisas, e eu vou lhe ditar menino. Faça as anotações.

Logo percebi que Maria Molambo referia-se a algum espírito obsessor, uma marginal do astral, e por algum motivo trazia esta pobre irmã, carente que é, na verdade, para nos brindar com uma mensagem.

– Não importam nomes, apenas sou alguém que me deixei levar pelo espírito dos tempos modernos. Fui adestrada – este é o melhor termo – para trabalhar do outro lado, perturbando a vida dos que continuam presos a carne. São presas fáceis, e temos todo o mundo, ou melhor, todo aparato do mundo da matéria do nosso lado. Àqueles que pensam que a magia negra ainda é o problema deste século, estão muito enganados. Vou lhes contar meu modus operandi:

Não precisamos mais direcionar leituras ou algo do tipo para afastar alguém de Deus. Isso até fazia sentido há alguns séculos, quando as pessoas ainda tinham algum senso de lógica. Ora, naquela época, as pessoas sabiam muito bem quando algo tinha sido provado logicamente e quando não; e quando tinha sido provado, elas criam de verdade. Elas ainda faziam associação entre pensamento e ação, e estavam dispostas a mudar seu estilo de vida em decorrência de ideias racionalmente encadeadas. Vocês são imunes a argumentação, então facilita-nos o trabalho. A imprensa diária e outras armas do tipo, todas, salvo exceções, já dominadas por nós, a serviço das trevas, nos trazem completo domínio da situação.

A grande massa do seu tempo está presa no fluxo das percepções imediatas, e as questões universais estão longe. Não precisamos perder tempo argumentando em vossos pensamentos, já são nossos os vossos. Já não conseguem mais distinguir em “verdadeiro” ou “falso”; vocês apenas entendem o jargão. Esses processos, dos quais são vítimas, os iniciamos há séculos, quando os fizemos caminhar sem Deus, e fizemos de tudo para que o humanismo dominasse as mentes certas. A era da razão, o homem como centro de tudo, e agora o novo deus. As leis criadas por Deus já não eram mais necessárias, não é? Conseguimos. O vosso “show business”, os intelectuais, formadores de opinião, professores de todas as cátedras, artistas, e mais uma infinidade de idiotas do vosso tempo estão a nosso serviço.

Agora, na fase que estamos, a revolução sexual alcançará o ápice. O alvo é a extinção da família e de todo o respeito, além é claro de deixar os perdidos mais perdidos, pois não terão nem para onde voltar após os desastres finais. Todos serão idiotas úteis, e que depois serão descartados até por nós. E veja bem, nosso trabalho é tão perfeito, que temos todo aparato dos Estados conosco, a opinião pública; científica (esta inclusive está sendo um braço armado, e bem armado); assim como das religiões, inclusive a vossa. Quantos sacerdotes você acha que se salvarão? Pois é, acho que se a arca de Noé fosse reconstruída, faltariam tripulantes humanos.

— Já chega, – sentenciou Maria Molambo – você percebeu menino a tranquilidade que isso é narrado e descrito por essa gente?

– Estou perplexo, minha Senhora. É quase inacreditável, no entanto, sinto a familiaridade com nossos tempos.

– Vamos encerrar por aqui. Arrisquei-me em trazer ela até nossa redação. Foi dominada recentemente, juntamente com outras companheiras de jornada obscura, e continuam sendo procuradas por outros de suas falanges. Vou levá-la de volta para sua cela, onde vou oferecer-lhe um tratamento estupendo, onde em breve ela será uma madre, ah!ah!ah!ah!

– Obrigado Senhora por arriscar-se para tão nobre tarefa. Rogo a Deus para que este esforço não seja em vão.

Que o Senhor nos abençoe.

Avatar de Michael Pagno

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Todos os textos aqui publicados são de responsabilidade do autor, e não representam necessariamente a opinião da comunidade da Tenda Xangô 7 Raios.