Tag: Catolicismo

  • Diálogo inter-religioso

    Diálogo inter-religioso

    Elegemos o catolicismo e o protestantismo para estes comentários, pelo fato de serem as religiões com maior expressão na sociedade brasileira. As demais religiosidades, além de serem minoritárias, em especial se forem orientais, não guardam grandes problemas com a Umbanda.

    O espiritismo, que no Brasil se tornou religião, ainda presentemente tem alguns problemas com relação à Umbanda. Àqueles mais intolerantes com o fato de a Umbanda ter abraçado a doutrina de Kardec, esquecem que, o próprio codificador colocou a doutrina espírita como “Filosofia Espiritualista”. Kardec, ao que nos parece, jamais quis fundar uma nova religião.

    Segundo Kardec, qualquer pessoa pode ser espírita, independente da religião que professe, desde que creia na existência dos espíritos e na sua relação com o mundo dos encarnados. Portanto, nada impede que o umbandista seja espírita, estude e professe a doutrina dos espíritos codificada por Kardec.

    Quanto o catolicismo, sabemos que sua relação com a Umbanda não é pacífica, apesar de, na atualidade, com os movimentos sofridos no seio da própria Igreja Católica, a Umbanda não ser combatida pela ala mais progressista da Igreja.

    O protestantismo, por sua vez, é o combatente mais ferrenho da Umbanda. O advento do neopentecostalismo potencializou a rivalidade e os ataques a Umbanda e por extensão a todas as religiões afro-brasileiras.

    Nestes breves comentários, em verdade, temos que as religiões (sejam elas quais forem), são antagônicas, e dificilmente terão uma convivência pacífica, sem ataques umas as outras. Religiões são ideias humanas, e cada uma formula suas doutrinas e filosofias com base naquilo que creiam mais coerentes. Mesmo as religiões afro, neste rol imenso de práticas enquadradas nesta nomenclatura, têm ataques contínuos entre si — não somente em práticas diferentes, mas entre dirigentes de uma mesma religião, em discussões estéreis para saber qual sacerdote tem o ritual correto.

    Contudo, longe de estar aqui fundamentando o não diálogo inter-religioso (sendo que não acredito em tal diálogo honesto), creio que a liberdade dos seres humanos e o respeito a esta liberdade, pode ser uma saída justa e pacífica para tal problema.

  • Santa Catarina e a feiura da alma em pecado

    Santa Catarina e a feiura da alma em pecado

    Uma noite, enquanto dormia, Catarina sonhou com a Rainha do Céu, envolta numa admirável beleza, trazendo nos braços o seu divino Filho. Este, porém, virando-lhe o rosto com descontentamento, disse que Catarina era feia, porque não havia sido batizada…

    Por Pe. Franz X. Weninger, S.J. Traduzido para o português.

    Santa Catarina nasceu em Alexandria, de pais pagãos. Era dotada de grande beleza pessoal, e possuía uma inteligência tão extraordinária, que dominava todas as ciências existentes na época em sua cidade natal. A única da qual não tinha conhecimento era a da salvação eterna, mas finalmente obteve-a da seguinte forma: enquanto dormia, teve a impressão de que a Rainha do Céu aparecia-lhe envolta numa admirável beleza, trazendo nos braços seu divino Filho. Ele, porém, virando o rosto para ela com descontentamento, disse que Catarina era feia, porque não fora batizada. 

    Ao acordar, começou a pensar no sonho que teve e recebeu uma inspiração do Céu para tornar-se cristã. Após receber a devida instrução, recebeu finalmente o santo Batismo. Posteriormente, a Virgem Santíssima apareceu-lhe novamente em sonho ao lado de Cristo, que, olhando com ternura para Catarina, pôs um anel em seu dedo como sinal de que a escolhera por esposa. Ao acordar, encontrou um anel em seu dedo e, sem demora, decidiu consagrar a virgindade ao Senhor e tornar-se uma cristã mais zelosa.

    Maximino, o imperador, tinha estabelecido certo dia para celebrar um sacrifício público em honra dos falsos deuses, e todos os habitantes da cidade foram obrigados a participar. Catarina ficou muito triste por ver que o povo honrava o demônio daquela maneira e não conhecia o verdadeiro Deus. Munida de coragem, entrou destemidamente no templo, onde o imperador assistia pessoalmente ao sacrifício, e, dirigindo-se a ele com liberdade cristã, mostrou-lhe como ele era cego por adorar ídolos e tentou convencê-lo da veracidade do cristianismo.

    Santa Catarina subjugando o imperador. Pintura de Claudio Coello.

    O imperador ficou muito surpreso com o fato de uma donzela ter ousado falar daquela maneira com ele, mas, ao mesmo tempo, ficou fascinado com a aparência e a eloquência de Catarina. Tão logo ele retornara ao palácio, Catarina foi novamente ao seu encontro e falou com tanta veemência sobre a falsidade dos deuses pagãos e a autenticidade da religião cristã, que o imperador não soube o que responder. 

    Aquilo que era incapaz de fazer, pensava que outros poderiam fazer por ele. Então, convocou alguns dos homens mais eruditos para que respondessem aos argumentos de Catarina e a persuadissem a renunciar à fé cristã. Deus, porém, que, por meio de uma frágil donzela, poderia reduzir a nada a sabedoria dos pagãos, inspirou Santa Catarina com tal eloquência, que ela conseguiu convencê-los de seu erro. E o fez com tal perfeição, que renunciaram a ele publicamente  e proclamaram a fé cristã como a única verdadeira. O imperador, furioso com um desfecho tão inesperado, ordenou que aqueles novos confessores de Cristo fossem imediatamente executados. 

    Em seguida, procurou fazer com que Catarina abandonasse a fé por meio de lisonjas e promessas; e quando viu que suas palavras não impressionavam a virgem, começou a ameaçá-la e, finalmente, mandou torturá-la. A santa foi açoitada com tanta crueldade e por tanto tempo, que todo o seu corpo ficou coberto de feridas, das quais o sangue escorria sem cessar. Os espectadores choravam de compaixão, mas Catarina, fortalecida por Deus, permanecia com os olhos voltados para o Céu, sem manifestar qualquer sinal de medo ou sofrimento. 

    Após esse terrível castigo, Catarina foi levada a um calabouço e, por ordem do imperador, deixaram-na sem comer, para que pudesse definhar lentamente. Mas Deus enviou-lhe um anjo para remediar suas feridas e consolá-la. Depois, Ele mesmo apareceu-lhe pessoalmente, encorajou-a a lutar com bravura e prometeu-lhe a coroa da glória eterna. Quando viu as feridas de Catarina curadas, e a virgem resplandecente com uma beleza mais do que humana, emudeceu de espanto. A santa fez desse milagre uma ocasião para lhe falar da onipotência do Altíssimo e da farsa que eram os deuses pagãos. Falou com uma eloquência tão impressionante que tanto a imperatriz como Porfírio prometeram abraçar o cristianismo.

    “Decapitação de Santa Catarina”, pelo Mestre de Colônia, século XV

    Alguns dias depois, quando o imperador soube que Catarina não só ainda vivia como estava mais forte do que nunca, chamou-a à sua presença e voltou a assediá-la com promessas e ameaças. Porém, ao verificar que ela permanecia tão firme quanto antes, ordenou que fosse amarrada a uma roda cheia de pontas afiadas e facas. A heroína cristã não ficou horrorizada com essa ordem desumana, e invocou a Deus com confiança inabalável. Quando os carrascos a prenderam e ataram à roda, o Todo-Poderoso enviou um anjo que soltou os grilhões e despedaçou a roda. Muitos dos espectadores, ao presenciar esse milagre, exclamaram a plenos pulmões: “Grande é o Deus dos cristãos! Só Ele é o verdadeiro Deus!” 

    Maximino permaneceu cego e pensava em novos tormentos, quando a imperatriz se aproximou, censurou-o pela barbaridade cometida contra uma donzela frágil e inocente, e confessou corajosamente que ela mesma não reconhecia nem adorava outro deus senão o Deus dos cristãos. O tirano, ao ouvir tais palavras, perdeu o controle e ordenou que a imperatriz e Porfírio fossem imediatamente decapitados, e que Catarina, como inimiga dos deuses, fosse levada para a praça pública e morta pela espada. 

    A destemida virgem dirigiu-se com alegria até o local indicado, exortou todos os circunstantes a abandonar a idolatria, rezou a Deus pela conversão deles e, em seguida, recebeu o golpe que enviou sua alma para o Céu. Alguns autores antigos testemunham que do corpo de Santa Catarina saiu leite em vez de sangue, como acontecera na morte de São Paulo; e acrescentam que seu corpo foi milagrosamente transportado por anjos e sepultado no Monte Sinai, na Arábia.

    Fonte: Site Padre Paulo Ricardo

  • Ataques aos símbolos religiosos. A saga continua…

    Ataques aos símbolos religiosos. A saga continua…

    Para nós, umbandistas, Exu é o Orixá da verdade, o detentor dos princípios básicos da paz e da harmonia, aquele que regula a ordem, a disciplina e a organização, opostos da desarmonia, da desordem e da confusão, tudo o que estes eventos infelizes causam.

    Um provérbio iorubá elucida a respeito dessa atribuição deste Orixá: Olòótó ni òtá ayé — quem diz a verdade é inimigo dos seres. Este provérbio elucida porque Exu é visto por alguns como benéfico, outros como maléfico. O fato é que todo aquele devoto e iniciado para Exu tem o compromisso com a verdade, pois Exu é disciplinador, exige ordem e organização. Por ser iniciado para Exu, procuro sempre me pautar pela verdade, buscando ser disciplinado e guardando o principal atributo de Exu: a paciência.

    Referindo-me ao artigo publicado anteriormente, sobre os ataques aos símbolos religiosos na abertura dos Jogos Olímpicos na frança, não havia esperança — pelo menos para mim — de que houvesse alguma reação de religiosos pelo mundo, em especial da Igreja Católica, haja visto a postura do papa em tempos atuais. Contudo, houve sim reações, e foram as mais inusitadas. Listarei algumas:

    A conferência dos Bispos da Igreja Católica Francesa repudiou a releitura da “Ultima Ceia”, que exibe os doze apóstolos sentados à mesa com o Cristo. A obra é conhecida mundialmente, e a versão mais famosa é de 1497, de Leonardo da Vinci, e tradicionalmente mostra Jesus consagrando a Eucaristia.

    O bispo Andrew Cozzens, presidente do Comitê Episcopal dos Estados Unidos para Evangelização e Catequese, pediu aos católicos que respondam ao incidente com oração e jejum.

    “Jesus viveu sua Paixão novamente na sexta-feira à noite em Paris, quando a Última Ceia foi publicamente difamada”, disse Cozzens.

    O bispo alemão Stefan Oster chamou a cena de “Última Ceia queer” de “um ponto baixo e completamente supérfluo”. O arcebispo Peter Comensoli de Melbourne, na Austrália, preferiu o “original”, ao publicar uma fotografia da obra de Da Vinci no Twitter/X.

    Já o padre dominicano Nelson Medina afirmou que não assistirá a uma única cena dos Jogos Olímpicos. “Que repugnante o que fizeram zombando do Senhor Jesus Cristo e seu supremo dom de amor”, disse. “Eles são covardes; não mexeriam com Maomé.”

    O cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, também lamentou o ocorrido. “Para nós, cristãos, não se trata somente de uma obra de arte”, observou. “Ela retrata o Evangelho e o significado mais profundo e belo da Eucaristia. Será que o deboche a partir da Última Ceia não reproduz e reforça os preconceitos que se querem combater, fazem sofrer… Levaram a violências?”

    Assim, não se trata aqui de apontar grupos A ou B da agenda woke. Reafirmo que não tenho problemas com qualquer pessoa, aliás, não acredito que cor, raça, sexo etc. definam alguém. O que define uma pessoa são suas virtudes e atitudes. O lamentável disso tudo é o ataque a um símbolo religioso (e olha que não sou católico), mas sou cristão, e tenho profundo respeito pela Igreja Católica, que, como disse Chico Xavier, “é a mãe de nossa civilização”.

  • O ataque aos símbolos religiosos na abertura dos Jogos Olímpicos

    O ataque aos símbolos religiosos na abertura dos Jogos Olímpicos

    Dois homens se beijando, ‘drag queens’ recriando a Última Ceia e uma modelo trans: a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 incluiu referências à comunidade LGBTQIA+ (seja lá o que esta sigla signifique em verdade), e despertou no consórcio de imprensa as velhas narrativas de que “bolsonaristas” reagiram às demonstrações de diversidade.

    Não gostaria de escrever sobre este assunto, se a urgência assim não determinasse, porém, com vistas aos fatos, não posso deixar de comentar. Contudo, me precavendo a qualquer interpretação maldosa por parte daqueles que se fazem de desentendidos, deixo claro desde já não se tratar de preconceito a opção sexual de qualquer pessoa. Aliás, duvido muito que a maioria da comunidade gay faça coro a estas cenas patéticas da abertura dos Jogos Olímpicos.

    A cerimônia de abertura dos Jogos na França foram, no mínimo, desprezíveis e lamentáveis. Fico tentando entender o que drag queens e uma Santa Ceia encenada nos moldes da agenda woke têm em comum com jogos olímpicos, que deveriam ser uma integração, uma irmanação entre nações, um momento de paz e convivência com diferentes culturas e religiões. Porém, o que presenciamos foi, antes de mais nada, um ataque aos símbolos sagrados do cristianismo. Apenas como exercício de imaginação, por que o comitê organizador de tais eventos não o faz com os símbolos do Islã? Vale a reflexão. . .

    O que a agenda woke, muito bem representada pelo presidente da França, o esquerdista Emmanuel Macron procura com esta agenda é segregar, colocar uns contra os outros, fazendo com que se enfraqueçam mutuamente, destruir os pilares civilizacionais do ocidente, fazer com que o resto do mundo seja como seu próprio país, um festival de desastres e golpes, desde a famigerada revolução francesa, com a desculpa de estarem lutando pela liberdade e se opondo a opressão da religião e do imperialismo. Meu Deus, este discurso cheira a mofo!

    Pior ainda é ler as manchetes do consórcio de imprensa, todas iguaizinhas, parecendo já estarem escritas e prontas nos grupos de WhatsApp dos jornalistas. Será que não notam o ridículo que estão expondo?

    A Umbanda, como uma religião cristã, que reconhece em Jesus Cristo, Nosso Senhor, o Pai e Governador de nosso planeta, não pode ver com bons olhos o ataque aos símbolos cristãos. Por certo, não possuo a autoridade de falar pela instituição Umbanda, mas posso falar em nome da nossa comunidade de terreiro, na qualidade de sacerdote de Umbanda, e não posso deixar de repudiar o ataque aos símbolos religiosos cristãos.

  • Os erros da Rússia

    Os erros da Rússia

    Por Maria Madise – tradução: equipe da Tenda Xangô 7 Raios

    O papel do gigante russo no palco geopolítico não pode ser ignorado. Mas desde que a guerra com a Ucrânia eclodiu em fevereiro de 2022, mesmo aqueles no Ocidente, muito além das fronteiras da Rússia, estão vivos para sua presença de uma forma ou de outra.

    Nos últimos dois anos, um número crescente de conservadores ocidentais e católicos se tornaram mais simpáticos à Rússia e à sua atual liderança do que aos seus próprios governantes. O povo mais conservador, cansado da crise de autoridade no Ocidente e desdenhoso de seus líderes liberais, tanto políticos quanto eclesiásticos, vê em Putin (pelo menos) um homem de autoridade, com uma visão para sua nação, quaisquer que sejam suas falhas. Diante dos ataques incansáveis à fé e à moral cristãs no Ocidente, eles estão preparados para ignorar quase mil anos de cisma, concentrando-se no reservatório de valores cristãos que eles vêem na ortodoxia russa. No entanto, é a fraqueza do Ocidente, não a força do Oriente, que promove tais inclinações.

    Além disso, a Ortodoxia Oriental parece sofrer com o tipo de tensão interna dolorosa também experimentada pelos católicos no Ocidente. Em um ensaio recente, “Quem guarda os Guardiões?”, o Dr. John Behr, Regius Professor de Humanidade da Universidade de Aberdeen, discute as razões por trás da relutância dos líderes ortodoxos em desafiar a ideia de Russkii mir, promovido pelo Patriarca Kirill de Moscou por meio de uma “guerra santa”, mais recentemente no Conselho Mundial do Povo Russo em 27 de março. Citando o arquidiácono John Chryssavgis, o Dr. Behr se pergunta se sua relutância vem de “um reconhecimento agonizante, embora não declarado, de que eles também são fundamentalmente atormentados pelas mesmas vulnerabilidades e falhas. Eles também podem ser marcados como hereges.” O arquidiácono Crissavgis continua a perguntar: “Quantas Igrejas Ortodoxas tendem à glorificação da nação e do Estado? Quantas nações antídoas confundem a adoração a Deus e saudaram a bandeira? Poderia ser que a maioria, se não todas as Igrejas Ortodoxas, estão de fato muito mais próximas do que poderiam admitir à ideologia russa pervertida?

    Como uma situação cada vez mais complexa é jogada no cenário mundial, somos chamados a nos elevar acima de um ponto de vista meramente geopolítico e aspirar a uma perspectiva sobrenatural. A aparição de Nossa Senhora em Fátima na véspera da Revolução de Outubro de 1917 não pode ser separada de tal perspectiva.

    Nossa Senhora veio para alertar contra o comunismo

    Na Páscoa, em maio de 1917, a Primeira Guerra Mundial fez a Europa se assemelhar a uma antecâmara do inferno, como o historiador americano Warren Carroll observou em seu excelente pequeno livro, 1917.2 O Papa Bento XV falou de um “suicídio de Europa civilizada” e apelou à Rainha da Paz em 5 de maio, nas seguintes palavras:

    “Para Maria, então, que é a Mãe da Misericórdia e onipotente pela graça, que o apelo amoroso e devoto suba de todos os cantos da terra – de templos nobres e mais ínfizes capelas, de palácios reais e mansões dos ricos como da cabana mais pobre – de planícies e mares ensinados de sangue. Que suporte a Ela o grito angustiado de mães e esposas, o lamento de pequeninos inocentes, os suspiros de todo coração generoso: que sua solicitude mais terna e que a paz peça seja obtida para o nosso mundo agitado.

    Oito dias depois, em 13 de maio, ela entrou em pessoa, aparecendo em um campo da Cova da Iria para três pastorinhos, Lúcia e seus dois primos, Jacinta e Francisco. Ela lhes deu instruções para realizar o triunfo de Seu Imaculado Coração, para que um período de paz pudesse ser concedido ao mundo devastado pela guerra. Primeiro, a oração – mais particularmente o Santo Rosário; segundo, reparação pelos pecados e ultrajes perpetrados contra os Santos Corações de Jesus e Maria; e em terceiro lugar, ela revelou que a Rússia deveria ser consagrada ao Seu Imaculado Coração.

    “Se meus pedidos forem atendidos”, disse Nossa Senhora, “a Rússia se converterá e haverá paz; se não, ela espalhará seus erros por todo o mundo, causando guerras e perseguições à Igreja. O bem será martirizado, o Santo Padre terá muito a sofrer, várias nações serão aniquiladas.

    A consagração da Rússia em tempo hábil provou ser uma tarefa difícil, levando a uma controvérsia considerável nos anos seguintes. Quaisquer que sejam os méritos que possam ser atribuídos às tentativas aparentemente incompletas ou atrasadas da consagração, não se pode negar que a Rússia espalhou seus erros por todo o mundo e, até o momento, não se converteu.

    O principal erro da Rússia é o comunismo – um projeto revolucionário para construir um mundo sem Deus, que conquistou território mais a oeste do que o Exército Vermelho jamais poderia. A disseminação do ateísmo material, o colapso das normas morais e a sanção legal do aborto e da homossexualidade – pecados que clamam ao céu por vingança – são todos evidências de seu sucesso. Sua afronta a Deus é provada pela intervenção de Nossa Senhora. Em 1917, ela não desceu do céu para condenar a maçonaria, o globalismo ou o islamismo. Ela veio para condenar o comunismo.

    A propagação de erros através da Rússia

    O objetivo do comunismo era redefinir todas as estruturas sociais para excluir Deus. E para fazer isso, teve que primeiro abolir a família, o que reflete a ordem divina.

    A família é onde a vida humana é gerada, nutrida e protegida. Em um nível natural, dá um propósito à vida humana. As sociedades baseadas em famílias fortes não são facilmente controladas ou seduzidas pelo pecado e pela auto-indulgência.

    A maneira mais eficiente de controlar uma nação é atacar suas crianças. Ao capturar seus corações e mentes, o futuro de um país é decidido. Os comunistas foram os primeiros a cobiçar o direito dos pais de educar seus filhos.

    No Manifesto do Partido Comunista (1848), Karl Marx e Friedrich Engels defenderam seu slogan “Abolição da família!” com estas palavras: “Você nos acusa de querer parar a exploração de crianças por seus pais? Para este crime, nos declaramos culpados”.

    “Mas, você diz, nós destruímos as relações mais sagradas, quando substituímos a educação domiciliar pela social … Os comunistas não inventaram a intervenção da sociedade na educação; eles procuram apenas alterar o caráter dessa intervenção e resgatar a educação da influência da classe dominante.” 3

    A abordagem “científica” dos marxistas à família negada a lei natural à qual a natureza humana está sujeita. Segundo eles, a matéria, animada pelo movimento e pelo progresso, é tudo o que existe. Assim, a família é um arranjo social transitório que, com o tempo, daria lugar a uma forma superior de sociedade – uma sociedade de verdadeiros iguais que gozam de recursos comunais, onde as mulheres não são mais oprimidas por homens nem filhos “explorados” por seus pais.

    Assim que os bolcheviques tomaram o poder na Rússia em outubro de 1917, apenas algumas semanas após a aparição final de Nossa Senhora em Fátima, eles lançaram seu programa para abolir a família.

    Em dezembro de 1917, o divórcio foi introduzido e consagrado no Código da Família de 1918 para ser facilmente obtido sem “nenhum motivo”.

    Em 1920, a Rússia Soviética tornou-se o primeiro país do mundo a legalizar o aborto, desencadeando um flagelo que destruiu mais vidas do que todas as guerras na história humana registrada.

    A institucionalização total da educação foi uma parte crucial do programa comunista. Em 1920, Aleksandra Kollontai, uma mulher altamente influente no partido bolchevique e a primeira comissária do povo para o bem-estar, escreveu em Kommunistka: “A sociedade comunista assumirá sobre si todos os deveres envolvidos na educação de uma criança”. 4

    Em 1922, a prostituição e a homossexualidade foram removidas do Código Penal.

    A revolução política do regime bolchevique foi acompanhada pela preparação para a revolução cultural, que desde o início, foi principalmente uma revolução sexual. O objetivo era redefinir não só a sociedade, mas a própria natureza humana.

    Como o professor Roberto de Mattei apontou, o Instituto Marx-Engels em Moscou tinha conexões com corpos semelhantes na Alemanha, por exemplo, o Instituto de Pesquisa Sexual do Dr. Magnus Hirschfeld (Institut for Sexualwissenschaft), estabelecido em 1919, com o objetivo de normalizar a homossexualidade.5 Ao longo da década de 1920, a “reforma sexual” para abolir a família foi estudada em intercâmbios acadêmicos.

    Em 1929, a liderança soviética convidou Wilhelm Reich para Moscou para dar uma série de palestras. Reich era um estudante de Sigmund Freud, cuja plataforma ideológica confrontava a moralidade cristã – baseada no sacrifício e na caridade para com o próximo – com o hedonismo baseado no prazer individual. Reich defendeu o “cancelamento” da família e a mudança de atitudes “negativas” para atitudes “sem sexo positivas” na sociedade.

    Reich também era um admirador de Vera Schmidt, cujo Detkski Dom – “casa das crianças” – em Moscou realizou experimentos psicanalíticos e sexuais com crianças pequenas. Reich elogiou este trabalho como confirmação da sexualidade infantil. Tais “descobertas”, desenvolvidas pelos experimentos criminais de Alfred Kinsey nos EUA algumas décadas depois, 6apesar de terem sido rejeitadas por sua natureza abusiva, ajudaram a moldar a ideia fundamental de programas de educação sexual, promovidas pelos governos nacionais e agências da ONU em todo o Ocidente hoje, ou seja, que as crianças são sexuais desde o nascimento.7

    Enquanto os arquitetos da revolução sexual tinham aliados poderosos entre a liderança do regime comunista (como Leon Trotsky), Joseph Stalin viu nela uma ameaça ao seu poder político. Ele precisava de uma Rússia forte e, por essa razão, Stalin reverteu muitas das leis anti-família que o regime havia introduzido: o divórcio se tornou complicado e o aborto ilegal; as relações homossexuais foram mais uma vez uma ofensa criminal.

    Rejeitados por Stalin, os ideólogos da revolução sexual fugiram para a Alemanha de Weimar, dando origem à chamada Escola de Frankfurt, onde continuaram seu trabalho como um think-tank de cientistas sociais marxistas. A partir daí, esses intelectuais chegaram aos EUA, onde assumiram posições-chave em universidades como Harvard, Columbia, Princeton, Berkeley e outras instituições que desde então treinaram a maioria dos líderes civis e políticos da América.

    É por esta razão que as políticas promovidas no Ocidente hoje, parecem e soam como comunismo. Estes são os erros da Rússia – não o patrimônio do Ocidente.

    Comunismo do Ocidente e como curá-lo

    Os ideólogos sexuais do Ocidente hoje continuam fielmente a promover o ideal comunista da sociedade sem Deus. É uma revolução cultural contínua e paciente, com foco na educação, mídia e cultura popular. No entanto, permanece comunista: ainda procura destruir a ordem natural redefinindo a natureza humana; continua a cancelar as estruturas sociais baseadas na família e nas normas morais da lei natural; os direitos dos pais como educadores primários de seus filhos são minados e atacados; a inocência das crianças é sistematicamente destruída nas escolas pela doutrinação sexual destinada a quebrar sua reserva natural através da vulgaridade e da promoção de práticas imorais, especialmente a homossexualidade.

    O politicamente correto de hoje pode ser atribuído à Escola de Frankfurt. Seu objetivo era conformar toda a linguagem, pensamentos e comportamentos aos princípios do marxismo cultural, criando um novo código moral que rotulava qualquer expressão da moralidade cristã como um “crime de ódio”. Assim, aqueles que não aceitam a homossexualidade tornam-se o problema, em vez daqueles que procuram forçá-lo ao público; os pais que não aceitam a ideia de que seu filho nasce no corpo errado se tornam uma ameaça, em vez daqueles que doutrinam crianças com ideologia de gênero, e assim por diante.

    Os autores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) reconheceram muitos dos problemas do marxismo cultural em nível natural e tentaram oferecer uma resposta secular. A DUDH defende a vida, bem como os direitos dos pais, pois ficou evidente, no final da Segunda Guerra Mundial, que um pai de uma família não pode ser um cidadão livre quando não governa sua própria casa e tem que competir com o Estado para a formação das consciências de seus filhos.

    Na ONU de hoje, há pouca consideração por seus documentos fundadores e, em vez disso, a visão marxista da educação pelo Estado é promovida. O lobby de controle populacional assumiu um papel de liderança na formação de programas de educação sexual e políticas familiares internacionais. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a Agenda 2030 global, por exemplo, trazem uma pressão esmagadora sobre os Estados membros para “garantir o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo planejamento familiar, informação e educação, e a integração da saúde reprodutiva em estratégias e programas nacionais”. (Objetivo 3.7)

    Isto significa o acesso universal à contracepção, ao aborto, à promoção da homossexualidade e doutrinação das crianças nas escolas – por outras palavras, a destruição institucionalizada da família.

    Isso é, claro, o que todo católico deve resistir. Mas isso não pode ser feito abraçando uma alternativa falsa. Não se trata de preferir uma agenda global a outra. Ou mesmo ter que ficar do lado de um se rejeitarmos o outro. Pelo contrário, é a doutrina da Igreja Católica contra a qual todas as visões de mundo devem ser julgadas.

    O Ocidente não é seus líderes nem os valores liberais que eles proclamam. O verdadeiro Ocidente é a cristandade, a fé e a cultura moldadas pelos ensinamentos da Igreja Católica, seus santos e mártires.

    No momento, este Ocidente parece ter sido apagado, mas apenas foi eclipsado. Atrás das sombras, o sol permanece. Não devemos procurar escapar do eclipse à custa de desistir do sol.

    A necessidade de reconstruir a Rússia após a perda devastadora de mão de obra e a ruptura social da guerra tornou inevitável a introdução de leis de Stalin para incentivar o casamento e o parto. No entanto, apesar dessas “boas políticas”, a história não o considera como um líder pró-família. Pelo contrário, lembra-se dele como um ditador responsável pelo terror sangrento que custou milhões de vidas. Este exemplo deve soar uma nota de cautela para aqueles que exaltam os atuais líderes russos para a promoção de políticas pró-vida e familiar rejeitadas por seus homólogos ocidentais.

    Analisando as consequências comunistas, David Satter argumenta que “a Rússia hoje é assombrada por atos não examinados e palavras não ditas, locais que não foram reconhecidos e valas comuns que foram comemoradas parcialmente ou não são. O fracasso em enfrentar as implicações morais da experiência comunista, no entanto, significou que a mudança real na Rússia não era possível. A psicologia da dominação do Estado foi deixada intacta para influenciar a nova Rússia pós-comunista. 8 Enquanto a Rússia permanecer assombrada por seus erros – enquanto a Rússia for cismática, anticatólica e comunista, ela não pode curar as feridas que seus erros infligiram ao Ocidente.

    São Pio X disse: “O desejo de paz é certamente um sentimento comum a todos, e não há ninguém que não o invoque ardentemente. A paz, no entanto, uma vez negada por Deus, é absurdamente invocada: onde Deus está ausente, a justiça é exilada; e sem justiça, a esperança da paz é alimentada em vão. 9 – 8

    O mundo secularizado, que hoje envolve tanto o Ocidente como o Oriente, diz que quer a paz, mas esquece que declarou guerra a Deus, desafiando as leis que Ele escreveu no coração humano. A mensagem de Fátima recorda-nos que não haverá paz se não houver conversão primeiro. O aviso que se aplica à Rússia em 1917 deve agora ser cuidado em todo o mundo, que adotou os erros comunistas como seus. Não pode haver paz duradoura sem justiça, mas isso significa realmente que não pode haver paz verdadeira antes que as nações se tornem católicas.

    Notas

    1. Muito Rev. – Dr. Dr. (‘) John Behr, “Quem guarda os guardiões?”, Ortodoxia Pública, 24 de abril de 2024.
    2. Warren Carroll, 1917: Red Banners, White Mantle (Christendom Press, 1981).
    3. Manifesto do Partido Comunista (1848) Ch II.
    4. Alexandra Kollontai, “Comunismo e a Família”, Kommunistka, no 2, 1920.
    5. Prof Roberto de Mattei, “Uma história de revoluções e suas consequências para a família”, palestra no Fórum da Vida de Roma, 18 de maio de 2017.
    6. Gravado nos chamados Relatórios de Kinsey: Comportamento Sexual no Homem-Crê Humano (1948) e Comportamento Sexual na Mulher Humana (1953).
    7. Veja, por exemplo, Judith Reisman, Kinsey, Crimes e Consequência (2004) Honra Roubada, Honra Roubada, Inocência Roubada (2013).
    8. David Satter, It Was Long Time Há E Ele Nunca Aconteceu De qualquer maneira: Rússia e o passado comunista, (Yale, 2012), pág. 300.
    9. Pio X, E Supremi, no 7.