Tag: Opinião

  • Diálogo inter-religioso

    Diálogo inter-religioso

    Elegemos o catolicismo e o protestantismo para estes comentários, pelo fato de serem as religiões com maior expressão na sociedade brasileira. As demais religiosidades, além de serem minoritárias, em especial se forem orientais, não guardam grandes problemas com a Umbanda.

    O espiritismo, que no Brasil se tornou religião, ainda presentemente tem alguns problemas com relação à Umbanda. Àqueles mais intolerantes com o fato de a Umbanda ter abraçado a doutrina de Kardec, esquecem que, o próprio codificador colocou a doutrina espírita como “Filosofia Espiritualista”. Kardec, ao que nos parece, jamais quis fundar uma nova religião.

    Segundo Kardec, qualquer pessoa pode ser espírita, independente da religião que professe, desde que creia na existência dos espíritos e na sua relação com o mundo dos encarnados. Portanto, nada impede que o umbandista seja espírita, estude e professe a doutrina dos espíritos codificada por Kardec.

    Quanto o catolicismo, sabemos que sua relação com a Umbanda não é pacífica, apesar de, na atualidade, com os movimentos sofridos no seio da própria Igreja Católica, a Umbanda não ser combatida pela ala mais progressista da Igreja.

    O protestantismo, por sua vez, é o combatente mais ferrenho da Umbanda. O advento do neopentecostalismo potencializou a rivalidade e os ataques a Umbanda e por extensão a todas as religiões afro-brasileiras.

    Nestes breves comentários, em verdade, temos que as religiões (sejam elas quais forem), são antagônicas, e dificilmente terão uma convivência pacífica, sem ataques umas as outras. Religiões são ideias humanas, e cada uma formula suas doutrinas e filosofias com base naquilo que creiam mais coerentes. Mesmo as religiões afro, neste rol imenso de práticas enquadradas nesta nomenclatura, têm ataques contínuos entre si — não somente em práticas diferentes, mas entre dirigentes de uma mesma religião, em discussões estéreis para saber qual sacerdote tem o ritual correto.

    Contudo, longe de estar aqui fundamentando o não diálogo inter-religioso (sendo que não acredito em tal diálogo honesto), creio que a liberdade dos seres humanos e o respeito a esta liberdade, pode ser uma saída justa e pacífica para tal problema.

  • Democracia relativa

    Democracia relativa

    Em meados de 2021, produzi um curso de Umbanda, nada sofisticado, nem algo estiloso, porém era algo produzido com esforço, dedicação e muito empenho. Havia publicado na plataforma de vídeos Rumble, uma plataforma não muito conhecida, mas ótima para publicar. Contudo, qual não foi minha surpresa quando fui acessar minha “playlist” de vídeos, para conferir o número de acessos e audiência, e me deparei com a seguinte frase na página inicial da plataforma: “NOTICE TO USERS IN BRAZIL: Because of Brazilian government demands to remove creators from our platform, Rumble is currently unavailable in Brazil. We are challenging these government demands and hope to restore access soon”. Traduzido: AVISO AOS USUÁRIOS NO BRASIL: Devido às exigências do governo brasileiro para remover criadores de nossa plataforma, o Rumble está atualmente indisponível no Brasil. Estamos a desafiar estas exigências do governo e esperamos restaurar o acesso em breve.
    Sempre lutei muito pela liberdade, afinal, se não temos liberdade, não temos futuro. Mas, como havia dito a ministra do STF, a censura seria apenas até segunda, após o segundo turno das eleições presidenciais, então guardava esperanças em recuperar meu humilde curso.
    Não tenho mais redes sociais há um bom tempo, a exceção do X (antigo Twitter), um microblog que mais parece uma praça pública, só que em formato digital, onde todos podem escrever o que quiserem, dar sua opinião, mas arriscam serem corrigidos pela própria comunidade, que pode corrigir ou denunciar algo duvidoso, ou inverossímil a qualquer momento. Gostava muito da plataforma. GOSTAVA. A meia-noite do dia 31 de agosto deste ano, o ministro do STF Alexandre de Moraes, ordenou que a plataforma fosse banida do Brasil, prejudicando seus quase 22 milhões de usuários, inclusive eu, fazendo com que o Brasil entre para lista dos países “democráticos” que não tem acesso à plataforma mais livre do mundo, a exemplo da China, Rússia, Irã, Coreia do Norte e Turcomenistão.
    Ideologia é algo que todos temos, mesmo aqueles que dizem não ter, afinal, ideologia é algo que você coloca como alicerce para todos os posicionamentos que tenha. Alguns colocam “igualdade”, outros “liberdade”, e assim por diante. Prefiro a liberdade.
    Estamos prestes a cruzar uma linha sem volta. O ponto que delimita este divisor de águas está a poucos metros de distância. A tal de “democracia relativa” já está em funcionamento, e a poucos passos deixará de ser relativa para se consolidar no sonho dos integrantes do Foro de São Paulo: “resgatar na América Latina o que foi perdido no leste europeu”. Já estamos no chamado eixo do mal, aliados a ditaduras como da Venezuela, China, Rússia, e o que não dizer daquela foto de nosso vice-presidente Geraldo Alckmin, ao lado do número 1 do Hamas, no Irã. São estes nossos aliados e amigos, todos vivendo suas “democracias relativas” e colocando o Brasil como mais um anão diplomático.
    Se não houver um despertar de todos, independente de ideologia política ou religiosa, para resgatar nossa liberdade, daqui a pouco será tarde, e a história comprova que uma vez perdida, não será recuperada tão facilmente. Afinal, qual será o país que queres deixar a teus filhos e netos?

  • Nem céu, nem inferno, nem umbral. Para onde vão os umbandistas após a morte física?

    Nem céu, nem inferno, nem umbral. Para onde vão os umbandistas após a morte física?

    Pergunte à maioria dos umbandistas de hoje se não receberam catequização, ao menos na infância. Sem dúvida, a grande maioria lhe responderá que sim. Talvez aí já esteja explicado grande parte das crenças e do imaginário de nosso público. Ainda imersos nas descrições clericais da vida pós-morte – sem mencionar o contexto protestante, que tudo faz para apagar a crença na imortalidade, supondo uma possível ressurreição dos corpos, parecida com os dogmas católicos; mas pior ainda: a graça mediante apenas a aceitação de Jesus, nem que seja no último minuto de vida terrena, mesmo que esta tenha sido uma sucessão de erros, pecados, desgraças alheias e tudo mais que o ser humano é capaz de cometer. O principiante umbandista, incapaz de estudar e aprender por si, apenas troca os nomes: deixa de temer o inferno, mas passa a temer o umbral, almeja o céu, que agora passa a se chamar Aruanda.

    O senso comum produz estas aberrações, propagadas pelos umbandistas, estes que deveriam ser os primeiros a mostrar sua crença firme na imortalidade. Contudo, a transferência natural destas crenças milenares, que pregam céus, infernos e purgatórios, onde o sofrimento impera e castiga, nos parecem naturais frente a uma doutrina que não tem mais de 115 anos.

    A filosofia umbandista, que tem na doutrina dos espíritos sua expressão, encontra naquele que foi o codificador, Allan Kardec, a explicação do próprio professor, que sabia ser necessário esclarecer minuciosamente o quadro do novo mundo espiritual que se descortinava. A obra “O Céu e o Inferno”, publicada em Paris, a primeiro de agosto de 1865, traz toda explicação. Porém, há uma particularidade pouco lembrada quanto aos dogmas da igreja. Segundo eles, o sofrimento dos infernos é físico, na pele mesmo. O condenado deve sentir o calor do fogo, o queimar das carnes, o penetrar dos tridentes, a pressão e o trucidar das correntes. Mas quando são enviados aos infernos, esses condenados ainda são – como explica Kardec quanto à concepção da igreja – sem corpo, pois esse morreu e se desfez neste mundo.

    Os condenados, presentemente no inferno, podem ser considerados puros Espíritos, uma vez que só a alma aí desce, e os restos entregues à terra se transformam em ervas, plantas, minerais e líquidos, sofrendo inconscientemente as metamorfoses constantes da matéria. (O céu e o Inferno, página 53).

    Não se pode esquecer-se desse processo, quando se trata da doutrina da igreja! No momento da morte, ninguém sofre ainda. Só depois, quando Deus destruir este mundo e, no juízo final, restituir os corpos, agora imortais, mas feitos igualmente de carne e ossos, para que o sofrimento no inferno seja físico, real, fisiológico. Desse modo, continua Kardec:

    “Os eleitos ressuscitarão, contudo, em corpos purificados e resplendentes, e os condenados em corpos maculados e desfigurados pelo pecado. Isso os distinguirá, não havendo mais no inferno puros Espíritos, porém homens como nós. Conseguintemente, o inferno é um lugar físico, geográfico, material, uma vez que tem de ser povoado por criaturas terrestres, dotadas de pés, mãos, boca, língua, dentes, ouvidos, olhos semelhantes aos nossos, sangue nas veias e nervos sensíveis” (Idem, ibidem).

    Aqui está o ponto fundamental deste artigo. A concepção dos infernos considera um lugar físico, material, semelhante ao mundo atual, todavia piorado. Não chega a luz do sol, não se percebe o suceder dos dias e noites, não há lua. Um cheiro insuportável de enxofre, fumaça, suor, sangue. Labaredas de fogo, caldeirões fumegantes. Desolação e sofrimento sem fim. É preciso considerar um Deus bastante vingativo que odeia muito aqueles que o desobedeceram para condenar alguém a viver eternamente nesse horror! É algo para se pensar à parte. Basta imaginar que uma inocente criança, simples e alegre em seu lar, nos braços de seus pais, cuidada com amor e carinho, mas que não tenha sido batizada! Arrisca, a coitadinha, de sair desse lar aconchegante e, depois do juízo, se ver sozinha, fugindo dos tormentos dos demônios, abandonada eternamente pelo seu criador!

    A doutrina espírita oferece uma explicação bastante diversa da vida após a morte. Primeiramente, o mundo espiritual é também um lugar físico, mas cujas propriedades são completamente diferentes de nosso mundo. Enquanto aqui, se colocarmos pessoas de personalidades diversificadas, como a mãe de Jesus, um bandido, Herodes, camponeses e um filósofo genial, todos numa sala, e fizermos uma fogueira enorme, todos irão suar de calor, não importa o quanto difiram moral e intelectualmente. Ao levarmos esse mesmo grupo para o polo norte, todos iriam sofrer um frio lancinante, igualmente. O corpo físico de todos nós reage da mesma forma, conforme o ambiente físico no qual se encontra. Esse raciocínio valeria caso a vida futura ocorresse, como a doutrina das igrejas cristãs imaginam o céu e o inferno. Os espíritos superiores ensinam, porém, que o mundo espiritual tem a particularidade de ser influenciado diretamente pelo que pensam e sentem seus habitantes. É o inverso de nosso mundo. Aqui, o ambiente influencia nosso corpo (lugar frio esfria o corpo). No mundo dos espíritos, segundo o espiritismo, o corpo espiritual tem a propriedade de ser mais denso e materializado, quando o espírito está apegado às emoções e imperfeições, e torna-se leve, tênue, alcança distâncias, pode transpor-se para outros planos, quando o espírito evolui intelecto-moralmente.

    Ou seja, um bom espírito ganha, pela constituição mesma de seu perispírito, a liberdade de agir, de ir e vir, de transportar-se pelos orbes. Enquanto isso, um espírito imperfeito, pela condição materializada de seu corpo espiritual, em virtude do padrão de seus pensamentos e sentimentos, tem reflexos das sensações materiais e vivencia as ILUSÕES do frio, calor, sede, fome, medo e tantos outros. São ilusões, mas com plena realidade pela subjetividade do próprio espírito, ao se manter prisioneiro de suas próprias escolhas! Quando uma diversidade de espíritos presos aos seus apegos, imersos na raiva, medo, vingança, inveja, materializam o perispírito e estão juntos, vão moldando o ambiente ao seu redor pela força de seu pensamento. Eles poderiam criar um ambiente agradável, belo, sublime até. Mas suas ideias fixas não deixam. Seus pensamentos densos criam ambientes escuros, pesados e desagradáveis. Mais ainda, não há um lugar onde os espíritos sofredores sejam jogados para sofrer. É o inverso. São os pensamentos e sentimentos densos, as imperfeições morais do próprio indivíduo, a causa do ambiente que ele cria para si.

    O mundo espiritual é imanente a este, é bom lembrar. Nós, encarnados, estamos vivendo em dois mundos ao mesmo tempo. Aqui, com o corpo físico. E no mundo espiritual, com nosso perispírito. Não faz sentido, então, nos preocuparmos com o lugar que iremos após à morte. O raciocínio é outro! Onde já estamos no mundo espiritual agora? Segundo nosso padrão de pensamentos e sentimentos, estamos sintonizados, ambientados, em determinadas condições espirituais. Quem tem raiva constante, materializa também o perispírito. Quem se desprende, permanece sereno, vive em cada momento sua emoção adequada. Não se apega aos fatos passados, revivendo emoções passadas. Esse mantém seu perispírito leve, suave, desmaterializado. Céu e inferno são criações pessoais de cada um de nós. São escolhas livres, regidas por leis naturais. A autonomia é o fundamento da vida.

    E como fazer para sair dessa situação difícil na qual se encontram muitos espíritos depois da morte? Há uma só saída: A vontade. Nenhum outro ser pode mudar o padrão de pensamento e sentimento do outro, só ele mesmo. Só muda quem quer mudar. Quando um espírito decide sair do sufoco e sofrimento que está vivendo, basta uma prece sincera a Deus, um apelo aos bons espíritos, e será imediatamente auxiliado, por alterar voluntariamente seus pensamentos! Não é preciso ficar absolutamente puro para mudar sua vida. Basta uma mudança em suas disposições morais, explicou Kardec. E isso está ao alcance de todos. Guarde esse ensinamento. Um dia ele poderá, certamente, lhe ser útil!

  • O que é sexo? Uma visão do “lado de lá”

    O que é sexo? Uma visão do “lado de lá”

    — Salve escrivão. Vamos ao trabalho?

    — Salve, meu amigo. Claro, ao trabalho, sempre o trabalho.

    — Previno que o assunto não guarda tranquilidade, para dizer o mínimo. Porém, me vejo na obrigação de fazê-lo. Acompanhe:

    A definição do que é atividade sexual, segundo o que conhecemos, pode-se dizer que é o encontro de genitália de corpos, numa definição grosso modo. Tampouco, definir uma experiência sexual não é nada simples. No senso comum, encontramos definições como: “fazer amor” e sexo por prazer, as mais comuns. No entanto, sexo por prazer quer dizer o quê? E fazer amor, é possível fabricar amor?

    Se definirmos prazer, teremos algo que não passa de uma abstração, o “sentir prazer”. Pode-se sentir prazer em diversas coisas e atos, como exemplo: o prazer de fumar, de beber uma boa vodca, de assistir uma orquestra etc. Contudo, em momento algum, se pensarmos em prazer como o sentimos em diversos momentos diferentes, algum deles pode se comparar ao ato sexual? Para qualquer pessoa que já tenha experimentado o sexo, ao fazer uma analogia, existe comparação?

    A pobreza de percepção instalada no seio dos seres humanos de hoje, aliada a banalização, fruto da revolução sexual iniciada no final dos anos de 1960, início dos 70, fizeram com que perdêssemos até a capacidade de expressar em palavras o que é o ato sexual.

    Se pensarmos, em primeiro lugar, que vivemos aprisionados ao corpo, em situação de extrema solidão, onde passamos quase o dia todo, se não semanas e até meses sem tocar em qualquer outro corpo, senão toques esporádicos como um aperto de mãos, ou um breve abraço, beijos no rosto de “até logo”, nos leva a entender que de alguma forma, como uma criança chora pedindo o colo e o toque da mãe, o afago, o carinho que acalma o choro e faz dormir, reclamamos o toque de outro corpo, seja na condição social do matrimônio, amantes, e até desconhecidos que se cruzaram há poucos minutos, pouco importa. O que se busca, enfim, é fugir da solidão do corpo e buscar o toque.

    Ademais, no ato sexual estão envolvidos diversos elementos não psicológicos, que levam a conclusão que, na troca de fluidos carregados de genética, genes da espécie humana, algo que fazemos desde tempos imemoriáveis, para perpetuação da espécie, mesmo que o ato em si não tenha a finalidade de procriação, fazem com que naquele momento, haja uma transcendência daqueles seres envolvidos, e podemos dizer que a humanidade toda participa do ato.

    No nível da percepção, e são vários níveis experimentados durante o ato, estas vão esvaindo-se conforme o desenrolar, até chegar ao ponto de não haver mais percepções traduzíveis corporalmente, ou seja, notamos que a atividade cerebral possa estar extremamente reduzida, como em um estado de “quase morte”, feita a devida ressalva para os dois estados, um bem vivo, outro com a vida por um fio. No entanto, a percepção experimentada pelo “eu” durante o ato amplia-se para aquele que experiencia, como nas experiências de quase morte (EQM), porém, não são traduzíveis.

    Assim sendo, percebemos o acontecido: no momento do ato sexual, as percepções corpóreas dão lugar as do “eu” — notem bem que não digo da alma ou do espírito, não há separação do conjunto para formação do “eu”. Para este ser completo, precisa do corpo, perispírito e espírito —, paramos de sentir apenas pelo corpo, e concluímos que acontece a união em um único ser, ou a união de almas, no sentido poético já descrito a longo tempo atrás. Mesmo para aqueles que buscam pelo sexo nos modismos de hoje, manipulados que estão pela nova era, pensando agir por si, os mecanismos são os mesmos, e a percepção acontece da mesma forma.

    A ressalva que podemos fazer dentro desse contexto, aplica-se a prostituição, onde o(a) acompanhante utiliza-se do corpo como ferramenta de trabalho, restando ao contratante a percepção sexual, salvo se aconteça afinidade entre os dois. Mesma aplicação podemos estender ao caso do estupro; apenas um dos praticantes do ato terá a percepção sexual, restando ao outro somente a dor.

    Pode ser que você, caro leitor(a) não entenda tudo o que até aqui foi explicitado, mas um simples exercício de pensamento; se analisarmos como um “esfregar de corpos”, tem o poder de desencadear um processo de ampliação de percepção do “eu”, fazendo com que aconteça quase uma anulação da percepção corpórea, haja vista não ser possível descrever o ato sexual em minúcias, suas percepções, até o clímax de uma relação; não podem mesmo fazer com que desperte em vos algo para analisar e pensar? Será possível ainda definir “sexo por prazer”, ou “fazer amor”? Não interpretem este limitado Espírito como a voz da verdade, nem concluam que minha humilde análise de tão rico tema seja conclusiva. Talvez apenas aos poetas, com toda a riqueza de suas almas e apurada percepção, seja possível tal descrição, contudo, abro a discussão.

    Respeitosamente: Repórter A Noite.

  • A solidão

    A solidão

    Salve menino. Como estás? Toma nota destas impressões, dizem respeito a solidão que vós experimentais na vida.

    Nesta noite, em companhia de meu fiel amigo Tunico, ou Tuniquinho, excursionamos algumas Tendas. Em umas encontramos sessões, em outras, atendimentos individuais, que versavam sobre os mais diversos assuntos. Mas em quase todos, algo me chamou a atenção: analisei os consulentes que buscavam conselhos, li seus pensamentos, adentrei seus corações, minha alma se encheu de compaixão. Estavam cansados, abatidos, depois de um dia de afazeres em suas vidas seculares. Cedo da manhã, alguns até antes do sol nascer, já estavam nos pontos de espera pelo transporte público. Outros, enfrentavam o trânsito caótico dos grandes centros. Um dia todo, rodeados de pessoas, cumprindo sua labuta, porém mais sós que nunca. Como sois sós. Quanta solidão…

    Na busca de conselhos, enquanto os sacerdotes e sacerdotisas cônscios de sua tarefa, no seu esforço para nutrir a ânsia de respostas, os olhares solitários dos consulentes buscam pelo colo da mãe, que a muitos anos já não tem forças para aguentar seus pesados corpos. Choram suas fraquezas, riem de suas derrotas quando a caída do jogo de búzios as expões, mas buscam o amparo daquele que, naquele momento, faz o papel de anjo da guarda de carne e osso. O Altíssimo, naquele momento, manda chuvas de bençãos àquele que, com sinceridade, expõe suas fraquezas e busca o bom conselho.

    Quanta solidão os encarnados estão experimentando nestes tempos. Os templos já não dispõem de famílias religiosas que comungam do mesmo espírito. Filhos e filhas espirituais tramam às costas de seus pais espirituais, como cobras espreitam os ninhos. Os que tem um pouco de juízo, vão aos templos, tomam os sacramentos e fogem como o diabo foge das 15 horas, atentos as peçonhentas. Nas igrejas, a mesma situação. A solidão invade as almas que anseiam alguém para comungar o espírito. Aqueles que disso dispõe, que zele, guarde e cultue. Isso é para poucos, pouquíssimos.

    Quando fazemos a travessia1, a ideia da solidão – pelo menos para mim – foi a que mais atormentou este coração de periodicista acostumado às multidões, mas que também se sentia só. Não ter amigos para conversas, para fazer com que as ideias se amplifiquem, ou compartilhar nossas conquistas, é um grande fardo. Mas também se for para ter àqueles que vos rodeiam e não compartilham dos vossos ideais, afastai-vos. Não há o que acrescentardes, perdereis seus tempos e vosso espírito se empobrecerá. Vós encarnados experimentais este tormento, mas lhes digo, o meu foi em vão, pois assim que cheguei ao astral, muitos me receberam. Alguns felizes, outros nem tanto. Todos temos nossos débitos. O fato é que existe um antídoto para este veneno chamado solidão; seu nome é Fé.

    É possível preencher vossa alma com ciência, aquela que vem após as refeições entre pessoas sérias, que se sentam após alimentar o corpo, e alimentam a alma com a seriedade de quem ama a Deus acima de tudo, e reparem que no primeiro mandamento ele não deu à medida que deveríeis amá-lo, apenas que fosse acima de tudo o que amais. Se neste momento, e a partir dele conseguísseis realizar esta operação, nunca mais experimentareis a miséria, somente a plenitude. Já dizia Santo Agostinho: “Todo aquele que vive feliz faz a vontade de Deus, e todo aquele que faz o que Deus quer, vive bem, e viver bem nada mais é que fazer aquelas coisas que agradam a Deus”.

    Guarda-te menino, bem sei que compartilhas de alguém que é tua fiel companheira. Amados que leem estas mal traçadas linhas: Guardem-se da miséria. Amai a Deus antes de tudo o que imaginais possuir, e não deixais que a estultícia se aposse de vosso espírito. O tempo é agora.

    1- Na palavra “travessia”, nosso periodicista do além refere-se ao desencarne

  • O Caboclo Xangô 7 Raios

    O Caboclo Xangô 7 Raios

    Escrever sobre nosso Guia espiritual, no caso o Caboclo Chefe da Tenda de Umbanda Xangô 7 Raios, é uma tarefa de responsabilidade, e, ao mesmo tempo, de grande peso sobre os ombros. De responsabilidade devido à gravidade do que aqui vamos expor; de peso sobre os ombros pelo fato de haver a necessidade de ser o mais fiel possível ao nosso Guia espiritual.

    Meu primeiro contato com este Espírito se deu no início dos anos 2000, através da mediunidade de seu “aparelho” – nome pelo qual os Guias de Umbanda comumente chamam seus médiuns. Caboclo de nome pouco comum de encontrarmos nos terreiros, exerce um tipo de magnetismo especial naqueles que tem a oportunidade de receber um passe e consultar com este Espírito, apesar de Xangô 7 Raios ser de poucas palavras e direto nas suas colocações. Com relação a esta atração que seus consulentes sofrem, é um fato atestado por todos os que podem conviver com este Guia, sendo muito requisitado para consultas recorrentes por seus consulentes.

    Na exteriorização de suas manifestações, guarda um rosto levemente sisudo em seu médium, andando de um lado para outro com uma mão fechada sobre o peito, como se segurasse alguma coisa na mão. Aplica passes rápidos por vezes, outras de forma mais lenta (creio que seja pela necessidade do momento), mas sempre passes que guardam uma aparência de “pressa”. Digo esta palavra apenas para ilustrar seus trejeitos, e não que o referido Espírito realmente assim proceda, pois alguns de seus consulentes chegam a ficar por períodos superiores a um quarto de hora junto ao Espírito.

    Em relação às orientações e a forma deste Espírito governar nossa Tenda, posso afirmar que prima pela autonomia, pouco opinando sobre questões ritualísticas corriqueiras, apenas fazendo em questões mais sérias. Contudo, não guarda muita paciência se acaso suas orientações não são seguidas pela corrente mediúnica, sendo rígido em relação ao horário de início dos trabalhos, respeito às falanges que se manifestarão no dia, assiduidade das sessões e conduta moral dos médiuns. Algo que este Caboclo não admite é o cancelamento de uma sessão de caráter público, de atendimento aos necessitados. Segundo o próprio Espírito, não pode haver impedimentos para que os trabalhos não aconteçam, salvo por algum motivo de calamidade pública ou algo parecido. Nas palavras do próprio Guia: “não pode haver impedimentos que justifiquem a ausência dos trabalhos. A missão de socorro aos necessitados obedece ao lema aplicado aos verdadeiros médicos do corpo, o qual hauri do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti”:

    O médico, o verdadeiro médico, é isto; não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto o gemido que lhe chega aos ouvidos, a pedir-lhe, ao menos, o bálsamo da consolação, que já é de suma caridade. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, por ser alta noite, ou ser mau o tempo, ou ficar muito longe e muito alto o lugar para onde é chamado.” (Bezerra de Menezes)

    No tocante as forças espirituais que este Caboclo representa, segundo seus próprios ensinamentos, ele obedece à linha do Orixá Xangô, mas pode atuar como uma espécie de mensageiro dentro das outras 6 linhas, pois como seu próprio nome ostenta, tem autorização para trabalhar em todas as linhas de Umbanda (os 7 Raios).

    Caboclo Xangô 7 Raios é um Espírito de grande saber, profundo conhecedor da doutrina dos Espíritos, e percebe-se com facilidade que sua seara de trabalhos vai além da Umbanda. Apesar de não ostentar, lida com a magia de Umbanda de forma maestral, mas acima disso tudo, tem um profundo sentimento Cristão, e seu amor ao próximo, seja encarnado ou desencarnado transparece na sua egrégora.

    Um fraterno Saravá, e salve Pai Xangô 7 Raios.

  • Os falsos profetas

    Os falsos profetas

    Não são poucos agrupamentos, agremiações e até ajuntamentos posso dizer que conheço. Muitos nada mais são do que reuniões de aventureiros no aconchego do lar, reunidos em quatro ou cinco pessoas realizando sessões mediúnicas. Santo Deus, onde viemos parar? Voltamos ao tempo das “mesas girantes”, que eram o passatempo preferido em Paris no século XIX?

    O espiritismo, seja ele “de mesa”, ou espiritismo de Umbanda – utilizo estes termos para diferenciá-los, apenas por falta de termos adequados – carece de recolhimento, estudos e gravidade. O intercâmbio com o mundo espiritual não é, de forma alguma, objeto de aventura, passatempo e divertimento. Começo falando daqueles “doutrinadores de espíritos”. Poderíamos questionar: qual dos dois planos é mais necessitado de luz? O plano dos desencarnados ou dos encarnados? Respondo que ambos. É justo prestar auxílio aos irmãos sofredores das esferas próximas da Terra. Entretanto, é preciso convir que os encarnados carecem de maior iluminação, pois, como irão prestar auxílio a outros irmãos ignorantes? A lição de Jesus nos diz que é um absurdo um cego conduzir outros cegos. A grande maravilha do amor é o seu contágio. Por esse motivo, o espírito encarnado, para regenerar os seus irmãos da sombra, necessita iluminar-se primeiro.

    Após estes, estão aqueles que tudo sabem, conhecem tudo, tem uma mediunidade profundamente aguçada, que conhecem até os pensamentos mais íntimos do seu próximo. São os “profetas” da atualidade. Seu poder é tão incomensurável que estão acima, inclusive dos próprios Orixás (contém ironia). Por certo estou ironizando estes; não é para menos. Não merecem mais que o nosso desprezo e o total abandono aos velhacos do astral inferior, os quais servem com oferendas e mais oferendas, desconhecedores dos seus mecanismos e dos vícios despertados nos desencarnados por estas práticas realizadas sem o devido conhecimento.

    Há ainda os oraculistas, que de posse do seu oráculo, ou melhor, seria dizer, de seu wi-fi do além, conseguem informações que fariam até a KGB ter inveja, tal o volume de conhecimento que conseguem extrair dos jogos, e vaticinar com exatidão (segundo estes) que não cabe uma margem de erro de meio ponto percentual. Para que vamos arriscar nossas vidas, utilizando do livre-arbítrio se temos estes oraculistas? Basta pagar uma consulta, realizar o trabalho que com certeza será recomendado, e pronto! Acabaram-se seus problemas. Por certo, mais uma vez, apenas ironizo a questão que, se não fosse trágica, seria cômica.

    Posso ir adiante falando dos que possuem pactos com o “tinhoso”, e olha, não são poucos que me contam essa história. Estão com sua vida desgraçada, vivendo de favores, não tem dinheiro nem para um prato de comida às vezes, sem emprego, enfim, sem rumo algum na sua vida, nem material e muito menos moral. Gabam-se de possuir um pacto, e procuram uma casa “forte” que possa deixá-los trabalhar com suas forças, porque não são todos centros que aguentam seu poder. Sabem, dizem que é melhor ouvir do que ser surdo, entretanto, às vezes poderia representar alguma vantagem. Apenas gostaria que alguém me explicasse: segundo os satanistas, tais pactos representam poder, sucesso nas coisas do mundo, vitórias generalizadas, enfim… e como estas criaturas andam moribundas? Tem tanto poder e não conseguem endireitar a própria vida?

    Não vou prosseguir nesta postagem, pois preciso de mais algumas páginas para descrever todos os falsos profetas que já conheci, contudo, prometo voltar para fazê-lo, não por qualquer sentimento menos nobre, mas por puro senso de dever.