Tag: Psicografias

  • Umbanda, um espaço de fé

    Umbanda, um espaço de fé

    — Salve menino. Como estás? Tenho uma breve mensagem hoje.

    — Estou bem velho amigo. Então, não vamos perder tempo. Pode ditar-me:

    — A sessão de Umbanda, salvo quando de doutrina e desenvolvimento mediúnicos, dois trabalhos muito específicos, são sempre trabalhos espirituais direcionados para o culto do Espírito, das coisas eternas, daquilo que realmente deve ser nosso objetivo no plano da matéria. Outrossim, também a adoração a Deus, a devoção aos sagrados Orixás e Guias espirituais de Umbanda soma-se a finalidade última do trabalho.

    Devemos sempre lembrar que o templo de Umbanda não é um mercado, onde buscamos uma mercadoria para consumo, ou balcão de trocas onde uma barganha qualquer abre facilidades. A casa de Umbanda é, sobretudo, um templo religioso, uma Igreja como outra qualquer, onde vamos uma vez por semana ao menos, para praticar nossa religiosidade e buscar espiritualidade. Não podemos nos render aos entendimentos que colocam a Umbanda como uma casa de milagres, aonde vamos apenas em busca de soluções para problemas de qualquer ordem.

    Por certo a Umbanda, através da mediunidade, tem também a função de aliviar, aconselhar, tratar o corpo e o espírito, e jamais deixará de cumprir sua missão. Contudo, se faz necessário que seus devotos tenham a consciência de que o templo de Umbanda é também um local sagrado, consagrado a Deus e seus agentes, os Orixás e bons Espíritos.

    Acender uma vela, bater cabeça, cantar um ponto, colocar as guias, estar em uma corrente de Umbanda… ou dirigir-me até o templo, tomar lugar na assistência, beneficiar-me do passe e da egrégora proporcionada pelos Orixás e Guias de Umbanda… tudo faz bem, afasta o materialismo, aproxima-nos de Deus.

    “Avante, filhos de fé, como a nossa lei não há”. Trabalhemos pela Umbanda para que a Umbanda trabalhe por nós.

    Repórter A Noite

  • Os falsos profetas

    Os falsos profetas

    Não são poucos agrupamentos, agremiações e até ajuntamentos posso dizer que conheço. Muitos nada mais são do que reuniões de aventureiros no aconchego do lar, reunidos em quatro ou cinco pessoas realizando sessões mediúnicas. Santo Deus, onde viemos parar? Voltamos ao tempo das “mesas girantes”, que eram o passatempo preferido em Paris no século XIX?

    O espiritismo, seja ele “de mesa”, ou espiritismo de Umbanda – utilizo estes termos para diferenciá-los, apenas por falta de termos adequados – carece de recolhimento, estudos e gravidade. O intercâmbio com o mundo espiritual não é, de forma alguma, objeto de aventura, passatempo e divertimento. Começo falando daqueles “doutrinadores de espíritos”. Poderíamos questionar: qual dos dois planos é mais necessitado de luz? O plano dos desencarnados ou dos encarnados? Respondo que ambos. É justo prestar auxílio aos irmãos sofredores das esferas próximas da Terra. Entretanto, é preciso convir que os encarnados carecem de maior iluminação, pois, como irão prestar auxílio a outros irmãos ignorantes? A lição de Jesus nos diz que é um absurdo um cego conduzir outros cegos. A grande maravilha do amor é o seu contágio. Por esse motivo, o espírito encarnado, para regenerar os seus irmãos da sombra, necessita iluminar-se primeiro.

    Após estes, estão aqueles que tudo sabem, conhecem tudo, tem uma mediunidade profundamente aguçada, que conhecem até os pensamentos mais íntimos do seu próximo. São os “profetas” da atualidade. Seu poder é tão incomensurável que estão acima, inclusive dos próprios Orixás (contém ironia). Por certo estou ironizando estes; não é para menos. Não merecem mais que o nosso desprezo e o total abandono aos velhacos do astral inferior, os quais servem com oferendas e mais oferendas, desconhecedores dos seus mecanismos e dos vícios despertados nos desencarnados por estas práticas realizadas sem o devido conhecimento.

    Há ainda os oraculistas, que de posse do seu oráculo, ou melhor, seria dizer, de seu wi-fi do além, conseguem informações que fariam até a KGB ter inveja, tal o volume de conhecimento que conseguem extrair dos jogos, e vaticinar com exatidão (segundo estes) que não cabe uma margem de erro de meio ponto percentual. Para que vamos arriscar nossas vidas, utilizando do livre-arbítrio se temos estes oraculistas? Basta pagar uma consulta, realizar o trabalho que com certeza será recomendado, e pronto! Acabaram-se seus problemas. Por certo, mais uma vez, apenas ironizo a questão que, se não fosse trágica, seria cômica.

    Posso ir adiante falando dos que possuem pactos com o “tinhoso”, e olha, não são poucos que me contam essa história. Estão com sua vida desgraçada, vivendo de favores, não tem dinheiro nem para um prato de comida às vezes, sem emprego, enfim, sem rumo algum na sua vida, nem material e muito menos moral. Gabam-se de possuir um pacto, e procuram uma casa “forte” que possa deixá-los trabalhar com suas forças, porque não são todos centros que aguentam seu poder. Sabem, dizem que é melhor ouvir do que ser surdo, entretanto, às vezes poderia representar alguma vantagem. Apenas gostaria que alguém me explicasse: segundo os satanistas, tais pactos representam poder, sucesso nas coisas do mundo, vitórias generalizadas, enfim… e como estas criaturas andam moribundas? Tem tanto poder e não conseguem endireitar a própria vida?

    Não vou prosseguir nesta postagem, pois preciso de mais algumas páginas para descrever todos os falsos profetas que já conheci, contudo, prometo voltar para fazê-lo, não por qualquer sentimento menos nobre, mas por puro senso de dever.

  • A Tenda Ogum Guerreiro e Pai Sete-flechas

    A Tenda Ogum Guerreiro e Pai Sete-flechas

    — Salve querido escrivão. Como tem passado?

    — Bem, muito bem. Salve o Senhor. Estava com saudades de ouvir sua voz.

    — A recíproca é verdadeira. Tenho me ocupado em diversas atividades, e não julgueis mal, não apareço com mais frequência por falta de tempo. Apenas isto. Outrossim, saibam do meu carinho por todos, leitores e apreciadores de minhas histórias.

    — Nós que agradecemos ao nobre espírito.

    — Não há de quê. Bem, quero que conheçam um lugar, onde estive visitando uma sessão de Umbanda. Um caso curioso chamou-me a atenção naquele dia, e diz respeito a uma cura instantânea realizada por um Guia de Umbanda. Como sabes, visito terreiros diariamente, e este foi uma exceção aos outros: casa simples, despida de luxo e de toda pompa, onde o amor e a caridade imperam, algo incomum. A maioria dos terreiros são lugares luxuosos, carregados de soberba, orgulho e vaidade. Terei em vista descrever o local com a maior precisão que a memória proporcionar:

    Era uma casa de madeira, simples, e podemos dizer já bem danificada pelo tempo. Localizava-se numa ladeira, em meio a outras construções muito mais imponentes e belas. Com uma cerca feita de taquaras, com simples arames esticados, e bem mal esticados, davam uma aparência quase de não haver cerca alguma, sendo até as plantas entranhadas na cerca uma proteção maior contra invasores externos. No portão de entrada, sem pavimentação, apenas chão batido, dois cachorros a espera daqueles que fossem visitar a casa. Dois cães muito amáveis é verdade, tipo sem raça definida, o famoso vira-lata. Cheiravam e faziam festas a todos os que por ali passavam, funcionavam quase como recepcionistas. Alegres, recebiam um a um, e os acompanhavam até a porta de entrada da casa, onde ficavam olhando para dentro e abanando o rabo, só retornando para o portão quando o próximo visitante chegava.

    No interior da casa, a porta de entrada dava acesso a uma antessala, com dois sofás amplos. Seus revestimentos quase não existiam mais, mas poderiam ainda acomodar os corpos cansados e doentes que ali chegavam, pois pediam um descanso. Nas paredes, quadros de família misturados a imagens de santos católicos, padres, e bem ao centro o clássico “A Sagrada Família”. Apesar da simplicidade do local, a paz que ali reina é sem igual.

    Na sala da casa, que teve sua mesa de centro arredada em virtude dos trabalhos, uma cristaleira antiga. Nela, pratos e xícaras guardados em seu interior. Em cima, a imagem do Cristo ao centro, ladeado por Nossa Senhora; Padre Cícero; a Virgem da Conceição; Pai João e Mãe Maria (a imagem clássica de Pretos-velhos); o Caboclo Oxóssi; Pai Sete-flechas; São Jorge e um busto de Padre Réus. Este é o Centro de Umbanda Ogum guerreiro e Sete-flechas.

    Iniciaram os trabalhos. O dirigente, um simpático senhor, quase calvo, usava uma boina para esconder a calvície, algo que foi retirado de sua cabeça assim que o Guia baixou. Antes, porém, feita uma prece de abertura, a qual o dirigente fez com o rosário na mão e os braços abertos, mãos para o alto, de frente para o altar na cristaleira, chegou pela porta de entrada uma panela com brasas dentro, onde foram colocadas ervas secas para a defumação, e iniciou a cantoria: “Defuma com as ervas da jurema, defuma com arruda e guiné…”

    Todos nos defumamos, encarnados e desencarnados que assistíamos o trabalho. Nesse sentido, faço justiça ao número de pessoas que estava na sessão: eram aproximadamente umas 35 pessoas encarnadas, e algo que chegava a uma centena de desencarnados, entre nós, trabalhadores e àqueles que estavam ali em busca de auxílio. A casa pequena, tinha 6 cômodos ao todo, mas todos eles foram utilizados pelos trabalhadores do espaço para acomodar espíritos, tudo muito bem vigiado interna e externamente por uma equipe comandada por Sr. Tranca-ruas.

    O Guia que comandava os trabalhos nesta noite era Caboclo Sete-flechas. Ao chegar, caminhou lentamente na antessala, acompanhado de seu cambono, olhou atentamente a todos os presentes, onde indicou os que iria atender. Falou ao cambono que os outros competia ao Pai João curar. Após o Caboclo terminar seus atendimentos, o dirigente deu passagem ao amável Preto-velho, Pai João, que chegou e logo já solicitou o “pito”, algo apreciado também pelo seu médium. A sessão logo ficou mais descontraída, onde se ouviam mais conversas, e o Preto-velho era a voz que ecoava no terreiro, junto da criançada que brincava em torno da casa. O primeiro atendimento para Pai João já demonstrou o poder desta entidade: um senhor aparentando uns 35 anos, ostentava uma ferida em sua barriga e dizia já haver consultado diversos médicos sem êxito. O Guia pegou as mãos do consulente entre as suas, enrolou o rosário em ambas e sentenciou: “Se tens fé no Cristo, sairá daqui curado meu fio”! Fechou os olhos, fez uma prece e pediu um galho de guiné, ao qual benzeu o homem e disse: “Vá na paz fio. Vai fica bão”. O homem levantou-se meio atordoado, caminhou até a porta de saída e teve um enjoo forte, colocando para fora uma água de cor rosa. Os cambonos correram em socorro, acomodaram-no no sofá e lhe deram água. O Preto-velho prosseguiu como se nada estivesse acontecendo, pois já atendia outro consulente, uma jovem moça grávida que enfrentava problemas na gestação. O jovem permaneceu sentado, e logo o Guia pediu para que o chamassem. Disse o Preto: “Vê se agora o fio aprende, e para com os rabo de saia e cum vida de boêmio. Tá aí o resurtado. Mas toma chá de goiaba por 14 dia antes de deita que tu vai fica bão.”

    O jovem era casado — investigamos o caso depois — e guardava relacionamentos extraconjugais, onde uma de suas concubinas havia contratado um trabalho de magia para terminar com seu casamento. Porém, sua esposa, que também era espírita, recebeu uma blindagem e ele foi vítima em seu lugar. Estratégia usada pelo astral superior para salvar o casamento e regeneração do homem em questão. A lei de causa e efeito é implacável, e o jovem inconsequente ostentava aquela ferida em sua barriga apenas como um sinal externo de um mal muito maior, tanto em seu estômago quanto em seu espírito imortal, algo que foi curado pelo amor do Preto-velho, quase como uma intercessão do velho João em favor do encarnado. Note bem que tudo isso se produziu sem efeitos de pirotecnia, nem alardes por parte do Guia. A Umbanda trabalha na cantoria, porém, em silêncio.

    O Preto-velho despediu-se, colocou seu rosário pendurado em frente a cristaleira (ou congá), e chegou o Sr. Tranca-ruas. Pediu o defumador, foi até a antessala, onde apenas 3 pessoas encarnadas permaneciam junto a multidão de espíritos, e num gesto como de uma saudação, adentraram o recinto diversos falangeiros do Exu, que guiaram todos os espíritos presentes na casa. Alguns foram forçados é verdade, mas a maioria foi sem causar problemas. Permanecemos apenas nós, espíritos, visitantes e Caboclo Sete-flechas, além de Tranca-ruas. Enquanto defumavam a casa e os encarnados, uma falange da linha de Iemanjá adentrou o terreiro e terminou a limpeza astral. Estava encerrado o trabalho na tenda mais humilde que visitei por estes dias, contudo, a mais expressiva em espíritos de elevado grau e poder.