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  • O que é sexo? Uma visão do “lado de lá”

    O que é sexo? Uma visão do “lado de lá”

    — Salve escrivão. Vamos ao trabalho?

    — Salve, meu amigo. Claro, ao trabalho, sempre o trabalho.

    — Previno que o assunto não guarda tranquilidade, para dizer o mínimo. Porém, me vejo na obrigação de fazê-lo. Acompanhe:

    A definição do que é atividade sexual, segundo o que conhecemos, pode-se dizer que é o encontro de genitália de corpos, numa definição grosso modo. Tampouco, definir uma experiência sexual não é nada simples. No senso comum, encontramos definições como: “fazer amor” e sexo por prazer, as mais comuns. No entanto, sexo por prazer quer dizer o quê? E fazer amor, é possível fabricar amor?

    Se definirmos prazer, teremos algo que não passa de uma abstração, o “sentir prazer”. Pode-se sentir prazer em diversas coisas e atos, como exemplo: o prazer de fumar, de beber uma boa vodca, de assistir uma orquestra etc. Contudo, em momento algum, se pensarmos em prazer como o sentimos em diversos momentos diferentes, algum deles pode se comparar ao ato sexual? Para qualquer pessoa que já tenha experimentado o sexo, ao fazer uma analogia, existe comparação?

    A pobreza de percepção instalada no seio dos seres humanos de hoje, aliada a banalização, fruto da revolução sexual iniciada no final dos anos de 1960, início dos 70, fizeram com que perdêssemos até a capacidade de expressar em palavras o que é o ato sexual.

    Se pensarmos, em primeiro lugar, que vivemos aprisionados ao corpo, em situação de extrema solidão, onde passamos quase o dia todo, se não semanas e até meses sem tocar em qualquer outro corpo, senão toques esporádicos como um aperto de mãos, ou um breve abraço, beijos no rosto de “até logo”, nos leva a entender que de alguma forma, como uma criança chora pedindo o colo e o toque da mãe, o afago, o carinho que acalma o choro e faz dormir, reclamamos o toque de outro corpo, seja na condição social do matrimônio, amantes, e até desconhecidos que se cruzaram há poucos minutos, pouco importa. O que se busca, enfim, é fugir da solidão do corpo e buscar o toque.

    Ademais, no ato sexual estão envolvidos diversos elementos não psicológicos, que levam a conclusão que, na troca de fluidos carregados de genética, genes da espécie humana, algo que fazemos desde tempos imemoriáveis, para perpetuação da espécie, mesmo que o ato em si não tenha a finalidade de procriação, fazem com que naquele momento, haja uma transcendência daqueles seres envolvidos, e podemos dizer que a humanidade toda participa do ato.

    No nível da percepção, e são vários níveis experimentados durante o ato, estas vão esvaindo-se conforme o desenrolar, até chegar ao ponto de não haver mais percepções traduzíveis corporalmente, ou seja, notamos que a atividade cerebral possa estar extremamente reduzida, como em um estado de “quase morte”, feita a devida ressalva para os dois estados, um bem vivo, outro com a vida por um fio. No entanto, a percepção experimentada pelo “eu” durante o ato amplia-se para aquele que experiencia, como nas experiências de quase morte (EQM), porém, não são traduzíveis.

    Assim sendo, percebemos o acontecido: no momento do ato sexual, as percepções corpóreas dão lugar as do “eu” — notem bem que não digo da alma ou do espírito, não há separação do conjunto para formação do “eu”. Para este ser completo, precisa do corpo, perispírito e espírito —, paramos de sentir apenas pelo corpo, e concluímos que acontece a união em um único ser, ou a união de almas, no sentido poético já descrito a longo tempo atrás. Mesmo para aqueles que buscam pelo sexo nos modismos de hoje, manipulados que estão pela nova era, pensando agir por si, os mecanismos são os mesmos, e a percepção acontece da mesma forma.

    A ressalva que podemos fazer dentro desse contexto, aplica-se a prostituição, onde o(a) acompanhante utiliza-se do corpo como ferramenta de trabalho, restando ao contratante a percepção sexual, salvo se aconteça afinidade entre os dois. Mesma aplicação podemos estender ao caso do estupro; apenas um dos praticantes do ato terá a percepção sexual, restando ao outro somente a dor.

    Pode ser que você, caro leitor(a) não entenda tudo o que até aqui foi explicitado, mas um simples exercício de pensamento; se analisarmos como um “esfregar de corpos”, tem o poder de desencadear um processo de ampliação de percepção do “eu”, fazendo com que aconteça quase uma anulação da percepção corpórea, haja vista não ser possível descrever o ato sexual em minúcias, suas percepções, até o clímax de uma relação; não podem mesmo fazer com que desperte em vos algo para analisar e pensar? Será possível ainda definir “sexo por prazer”, ou “fazer amor”? Não interpretem este limitado Espírito como a voz da verdade, nem concluam que minha humilde análise de tão rico tema seja conclusiva. Talvez apenas aos poetas, com toda a riqueza de suas almas e apurada percepção, seja possível tal descrição, contudo, abro a discussão.

    Respeitosamente: Repórter A Noite.

  • A solidão

    A solidão

    Salve menino. Como estás? Toma nota destas impressões, dizem respeito a solidão que vós experimentais na vida.

    Nesta noite, em companhia de meu fiel amigo Tunico, ou Tuniquinho, excursionamos algumas Tendas. Em umas encontramos sessões, em outras, atendimentos individuais, que versavam sobre os mais diversos assuntos. Mas em quase todos, algo me chamou a atenção: analisei os consulentes que buscavam conselhos, li seus pensamentos, adentrei seus corações, minha alma se encheu de compaixão. Estavam cansados, abatidos, depois de um dia de afazeres em suas vidas seculares. Cedo da manhã, alguns até antes do sol nascer, já estavam nos pontos de espera pelo transporte público. Outros, enfrentavam o trânsito caótico dos grandes centros. Um dia todo, rodeados de pessoas, cumprindo sua labuta, porém mais sós que nunca. Como sois sós. Quanta solidão…

    Na busca de conselhos, enquanto os sacerdotes e sacerdotisas cônscios de sua tarefa, no seu esforço para nutrir a ânsia de respostas, os olhares solitários dos consulentes buscam pelo colo da mãe, que a muitos anos já não tem forças para aguentar seus pesados corpos. Choram suas fraquezas, riem de suas derrotas quando a caída do jogo de búzios as expões, mas buscam o amparo daquele que, naquele momento, faz o papel de anjo da guarda de carne e osso. O Altíssimo, naquele momento, manda chuvas de bençãos àquele que, com sinceridade, expõe suas fraquezas e busca o bom conselho.

    Quanta solidão os encarnados estão experimentando nestes tempos. Os templos já não dispõem de famílias religiosas que comungam do mesmo espírito. Filhos e filhas espirituais tramam às costas de seus pais espirituais, como cobras espreitam os ninhos. Os que tem um pouco de juízo, vão aos templos, tomam os sacramentos e fogem como o diabo foge das 15 horas, atentos as peçonhentas. Nas igrejas, a mesma situação. A solidão invade as almas que anseiam alguém para comungar o espírito. Aqueles que disso dispõe, que zele, guarde e cultue. Isso é para poucos, pouquíssimos.

    Quando fazemos a travessia1, a ideia da solidão – pelo menos para mim – foi a que mais atormentou este coração de periodicista acostumado às multidões, mas que também se sentia só. Não ter amigos para conversas, para fazer com que as ideias se amplifiquem, ou compartilhar nossas conquistas, é um grande fardo. Mas também se for para ter àqueles que vos rodeiam e não compartilham dos vossos ideais, afastai-vos. Não há o que acrescentardes, perdereis seus tempos e vosso espírito se empobrecerá. Vós encarnados experimentais este tormento, mas lhes digo, o meu foi em vão, pois assim que cheguei ao astral, muitos me receberam. Alguns felizes, outros nem tanto. Todos temos nossos débitos. O fato é que existe um antídoto para este veneno chamado solidão; seu nome é Fé.

    É possível preencher vossa alma com ciência, aquela que vem após as refeições entre pessoas sérias, que se sentam após alimentar o corpo, e alimentam a alma com a seriedade de quem ama a Deus acima de tudo, e reparem que no primeiro mandamento ele não deu à medida que deveríeis amá-lo, apenas que fosse acima de tudo o que amais. Se neste momento, e a partir dele conseguísseis realizar esta operação, nunca mais experimentareis a miséria, somente a plenitude. Já dizia Santo Agostinho: “Todo aquele que vive feliz faz a vontade de Deus, e todo aquele que faz o que Deus quer, vive bem, e viver bem nada mais é que fazer aquelas coisas que agradam a Deus”.

    Guarda-te menino, bem sei que compartilhas de alguém que é tua fiel companheira. Amados que leem estas mal traçadas linhas: Guardem-se da miséria. Amai a Deus antes de tudo o que imaginais possuir, e não deixais que a estultícia se aposse de vosso espírito. O tempo é agora.

    1- Na palavra “travessia”, nosso periodicista do além refere-se ao desencarne

  • A Pomba-gira e as mulheres

    A Pomba-gira e as mulheres

    Duas vozes discutiam na minha cabeça, apesar de não ver os interlocutores: – Vai menino, anota aí! — Mas quem está ditando sou eu!!! – Sim, mas quem está passando para ele sou eu!!

    — Epa, epa, espera aí. Se decidam gente; gritei em voz alta na minha mente – se é que isso é possível.

    – Viu como são as mulheres, menino? Sempre querem mandar em nós. Não aceita!

    – Você, seu latagão. Deixa que me entendo com o moleque! Faz tua parte e não te imiscui.

    – Vamos lá moleque, anota aí. Passa para o papel e publica. Vou te chamar de moleque tá. Este “ser” que é o periodista oficial, e que está preso no século XVIII te chama de menino, não é. Então, chamar-te-ei de moleque, tá bom?

    — Claro Senhora, como quiser. Explico: No início desta matéria, o periodista oficial do além que nos dita os textos, trouxe uma Senhora que também faz parte da organização dos Exus, e que também passará a nos brindar com seus comentários. A Sr.ª. Maria Molambo da Encruza. Porém, a moça que é um tanto tempestuosa…

    — Hoje estive passeando pelas ruas de vossa cidade. Cruzei com diversas pessoas que, apesar de perdidas, guardavam um brilho a mais no olhar. Estas, como se por um milagre, também suas vestes tanto espirituais, como as roupas em si tinham um pouco mais de decoro. Não gosto de mulheres vulgares, elas não sabem o que é ser mulher. Estas senhoras, as decorosas, as segui, estudei-as, e vi que antes de tudo seu coração estava onde deveria estar: Em Deus, nos filhinhos, no esposo, no lar e suas obrigações. Andavam pelos comércios, alguns risos com amigos, mas suas preocupações estavam em servir. Já repararam que as mulheres, apesar de não agirem com consciência hoje, mas por instinto sempre estão servindo?

    Mas também reparei em algumas indecorosas: suas mentes, assim como suas vestes espirituais e roupas tem algo sem pudor, são opacas como seus pensamentos, e apenas querem saciar seus instintos mais baixos tanto quanto possível. Se deixaram levar pelo espírito do mal destes tempos. Seu palavreado é chulo, cabelos esquisitos, roupas esquisitas. Unhas comparáveis àquelas da senhora La Voisin (famosa bruxa do século XVII), aliás comparáveis em tudo. Buscam a todo preço modificar o corpo, agem por ele e para ele.

    Moleque, não te assusta. Não tenho trava na língua. Se não suporta meu raciocínio, diz logo que vou embora. (A moça não é de brincadeira. Foi apenas a sensação que tive, e a distinta senhora captou. Que espírito é esse que lê pensamentos e capta sentimentos?)

    — Descrevi algo sobre a mulher porque quero dizer quem é Pomba-gira: não escreveram já que somos a sedução, o “poder” feminino? E os idiotas que escreveram isso acham que poder feminino vem do sexo apenas? Do poder de sedução? Ah, santa paciência me é necessária! Inclusive, alguns pensadores que vocês dão honras e glórias, que são quase contemporâneos meus de quando encarnada, não legaram que os escolásticos nos viam como inferiores? Quantas coisas distorceram, quanta mentira. Não é à toa que um deles, e fiquei sabendo nas bandas de cá (a escritora se refere ao astral) que Michel Foucault disse ter mentido mais que o diabo. Quanto trabalho teremos, quanto trabalho…

    Prestem atenção: Pomba-gira é apenas uma corruptela que inventamos, só isso, porque não podemos mais utilizar nosso nome de encarnadas quando passamos a atuar na Umbanda. É da lei de Umbanda isso e lei se cumpre, não se discute nem se interpreta a bel-prazer. Está escrito e sancionado. Já confessei que me chamei quando encarnada Ana Rita, apenas porque me foi permitido e tem um propósito maior, que entenderão logo, não hoje. Pomba-gira representa o poder da intercessora, da mulher em sua plenitude de mãe e provedora da família. Sabem o que é isso? Não sabem né, seu tempo não quer mais esta instituição, então a mulher deve ser destituída de seu cargo legado por Deus. Querem uma nova mulher, aquela que é apenas o objeto de satisfação, que tenta imitar o homem, pois quer prover o alimento, o que não é sua atribuição; quer independência, o que não é o projeto do Criador, pois um complementa o outro, homem – mulher.

    Estamos para Exu, assim como Exu está para nós. Somos a representação da instituição que vocês querem dispensar. Sabes quantos filhos tenho aqui no astral? Sabes que tenho marido? Sabes que provenho família, além da família de encarnados que guardo na terra? Quem tem Pomba-gira e Exu, que realmente os cultua e tem, possui a plenitude da família.

    Guardo as mulheres que buscam ser mulheres plenas, ajudo aquelas que querem mudar, intervenho nas famílias desestruturadas e vibro aquilo que meu nome de guerra me inspira: MARIA Molambo. Me inspiro em Maria Santíssima, peço a interseção dela em meu favor, para que eu seja instrumento da Mãe da humanidade. Não somos promíscuas. Nós Pomba-giras de Umbanda somos mulheres que querem o bem das mulheres. E entendam, mulher é sinônimo de santidade, de renovação da vida, de continuidade da espécie humana. Mulher é companheira, criada para andar ao lado do homem, nem a frente, nem atrás, a provedora da família. O homem é provedor do alimento, tanto para o corpo como do espírito. O lar de um casal onde encontramos no escritório do esposo, uma mesa extra ou o cesto de trabalho da esposa, onde o amor sabe planar e ficar em silêncio, é uma imagem de trabalho daqueles que comungam da vida no espírito. Ah, na vida dos cristãos há tantas belezas, tanto amor e felicidades a se colher. Sabe, realmente não entendo mais os encarnados, espero ainda ficar um bom tempo do lado de cá.

    Com lembranças particulares, Maria Molambo.

    — Pronto menino, a Senhora já foi. Encerramos aqui esta edição.

    Como intérprete permaneci pasmado. Também fiz parte até hoje daqueles que imaginavam Pomba-gira representar apenas a sedução. Obrigado Molambo.

  • Os Namorados

    Os Namorados

    — Salve menino da mente vazia. Ah!ah!ah! Estava difícil a inspiração?

    — Salve o senhor, amigo do além. Sim, as ideias não apareciam. Até preces fiz, e nada. Pensei haver me abandonado!

    — Não, ainda não. Temos tarefas a realizar. E por mencioná-las, vamos ao trabalho.

    Hoje vamos falar um pouco sobre algumas esquisitices modernas, se é que posso assim denominar. O referido objeto para análise, refere-se ao pensar e agir da gente do seu tempo. O que houve menino? Esqueceram como fizeram para tornarem-se bípedes?

    — Entendo amigo. Entendo o seu olhar sobre o estado de coisas que nos encontramos, mas com sinceridade, não sei a resposta a sua questão, aliás, respostas é o que menos tenho, contudo, perguntas tenho muitas.

    — Pelo menos és sincero menino. Faz bem em não arriscar justificativas para o injustificável. Sabes, antes de tudo sou da Umbanda e pela Umbanda. Seus templos – os poucos que ainda restam – estão esvaziados. Outros que se dizem Umbanda, não fazem mais que uma ou duas sessões por ano, com os Erês ou quando muito, lembrando a data do treze de maio, para Pretos-velhos. As novas gerações não têm nem conhecimento do que foi a doutrina de Umbanda, e este sentimento é de alguém que andou, e anda muito pelas tendas. Impressões de um velho Espírito que chega com entusiasmo, e sai aos prantos destes amontoados de pessoas ansiosas, depressivas, nervosas, raivosas, com um ego cheio de direitos e nenhum dever. Entretanto, isso será assunto para depois.

    O caso a analisar são daqueles que buscam os templos para “casos amorosos”. Não me estenderei a análise, serei sucinto. Farei apenas um questionamento: Qual o pensamento daquele que acha ter o direito de reivindicar para si a vida de outrem? Deus, em sua infinita bondade para conosco, vos deu este direito? A vida de uma pessoa pode pertencer a outra? Quando um dos cônjuges se aparta, exercendo seu livre-arbítrio, qual o papel daquele abandonado? Ora, o máximo que lhe cabe é resignar-se a decisão do outro. Ninguém é dono de ninguém.

    Deus nos deu uma liberdade divina (apesar de ainda não entenderem isso). Embora o sentimento envolvido, a saudade que restará, caso tenha sido belo o relacionamento em questão, os apelos do ego ferido, nada disso pode ser levado em conta. Caberá ao abandonado respeitar a decisão do outro, resignar-se e continuar sua caminhada. A maioria dos rejeitados mergulha em desesperos, chantagens para com o par, ansiedades sem fim, e enxergam apenas o fim da vida, como se a ausência daquela pessoa colocasse fim a jornada do encarne. Provais com isso não entender nada do amor, da união de almas, e o pior; não conheceis o respeito pelo seu semelhante.

    No tocante ao respeito vem o pior: mulher, o homem interessando apenas em sua nudez, prova desde o início suas intenções; da mesma forma você, homem: àquela provocando seus instintos de macho, relativo ao que há de mais animal na espécie humana, busca o quê? Apenas é respeitado o que se faz respeitar e se dá esse respeito.

    Qual é a verdadeira noção de união entre um casal? Deus, em sua infinita sabedoria sempre faz o melhor, e sabe que seus filhos, se seguirem o que Ele quer, serão felizes. A monogamia foi a evolução social de nossa espécie mais afim com a lei Divina, para que estreitando os laços familiares que se formam a partir do casal, a lei do amor fosse mais intensamente vivida e experienciada. Ao se unirem, dão origem a novas vidas, formam um núcleo familiar e apreendem, ambos, o labor de se tornarem progenitores. Os laços de amor e fraternidade projetam-se então para além desta vida. Porém, alguns casais podem não ter filhos, seja por opção ou até pela impossibilidade de um dos cônjuges. Também estes formam uma nova família, passam a viver um para o outro, e na união de suas almas tornam-se um só.

    Permitam-me exemplificar. O belo retrato do jovem casal cristão: sentado na varanda de sua casa está o nobre senhor, apreciando seu jardim. Nele, a grama bem cortada, os canteiros limpos e enfeitados. Belas flores estão neste jardim. Margaridas, tulipas, rosas, hortênsias; tudo muito bem cuidado e refletindo o extremo zelo do senhor da casa, que cuida do seu jardim ele mesmo. Tanto o senhor quanto a senhora da casa, sabem que ninguém cuidará de suas flores como eles. Algumas destas flores estão correndo pelo jardim, brincando de pega-pega. Que boas risadas ecoam…

    Uma é sua filhinha, de vestido amarelo e cabelinho loiro, até parece uma margarida. Outra veste camisa azul e bermuda verde, um filhinho que quase confundo com um crisântemo. Ah, esvoaçante, mais alta e imponente que estas flores, está uma rosa, cujo botão abriu a pouco. Esta rosa, senhora de vestido simples, de cor branca, com laços rosados à altura do busto e das mangas, corre atrás do crisântemo e da margarida. Entre uma risada e outra, a rosa entreolha na varanda o seu jardineiro, e recebe reciprocamente o amor e o bem-querer, que chega pelos olhos daqueles que se uniram pela alma.

    O sábio jardineiro empenha todo o esforço para a beleza de suas flores, por conseguinte, pode inebriar-se com sua vitalidade e beleza, sentir seus perfumes e alegrar-se com suas cores. Este é o retrato do lar onde o coração e as mentes pertencem ao Cristo.

    Até logo menino. Passar bem. E que o Senhor abençoe a todos.

    — Obrigado jornalista do além. E que Deus o abençoe.

  • Umbanda, um espaço de fé

    Umbanda, um espaço de fé

    — Salve menino. Como estás? Tenho uma breve mensagem hoje.

    — Estou bem velho amigo. Então, não vamos perder tempo. Pode ditar-me:

    — A sessão de Umbanda, salvo quando de doutrina e desenvolvimento mediúnicos, dois trabalhos muito específicos, são sempre trabalhos espirituais direcionados para o culto do Espírito, das coisas eternas, daquilo que realmente deve ser nosso objetivo no plano da matéria. Outrossim, também a adoração a Deus, a devoção aos sagrados Orixás e Guias espirituais de Umbanda soma-se a finalidade última do trabalho.

    Devemos sempre lembrar que o templo de Umbanda não é um mercado, onde buscamos uma mercadoria para consumo, ou balcão de trocas onde uma barganha qualquer abre facilidades. A casa de Umbanda é, sobretudo, um templo religioso, uma Igreja como outra qualquer, onde vamos uma vez por semana ao menos, para praticar nossa religiosidade e buscar espiritualidade. Não podemos nos render aos entendimentos que colocam a Umbanda como uma casa de milagres, aonde vamos apenas em busca de soluções para problemas de qualquer ordem.

    Por certo a Umbanda, através da mediunidade, tem também a função de aliviar, aconselhar, tratar o corpo e o espírito, e jamais deixará de cumprir sua missão. Contudo, se faz necessário que seus devotos tenham a consciência de que o templo de Umbanda é também um local sagrado, consagrado a Deus e seus agentes, os Orixás e bons Espíritos.

    Acender uma vela, bater cabeça, cantar um ponto, colocar as guias, estar em uma corrente de Umbanda… ou dirigir-me até o templo, tomar lugar na assistência, beneficiar-me do passe e da egrégora proporcionada pelos Orixás e Guias de Umbanda… tudo faz bem, afasta o materialismo, aproxima-nos de Deus.

    “Avante, filhos de fé, como a nossa lei não há”. Trabalhemos pela Umbanda para que a Umbanda trabalhe por nós.

    Repórter A Noite

  • A Tenda Ogum Guerreiro e Pai Sete-flechas

    A Tenda Ogum Guerreiro e Pai Sete-flechas

    — Salve querido escrivão. Como tem passado?

    — Bem, muito bem. Salve o Senhor. Estava com saudades de ouvir sua voz.

    — A recíproca é verdadeira. Tenho me ocupado em diversas atividades, e não julgueis mal, não apareço com mais frequência por falta de tempo. Apenas isto. Outrossim, saibam do meu carinho por todos, leitores e apreciadores de minhas histórias.

    — Nós que agradecemos ao nobre espírito.

    — Não há de quê. Bem, quero que conheçam um lugar, onde estive visitando uma sessão de Umbanda. Um caso curioso chamou-me a atenção naquele dia, e diz respeito a uma cura instantânea realizada por um Guia de Umbanda. Como sabes, visito terreiros diariamente, e este foi uma exceção aos outros: casa simples, despida de luxo e de toda pompa, onde o amor e a caridade imperam, algo incomum. A maioria dos terreiros são lugares luxuosos, carregados de soberba, orgulho e vaidade. Terei em vista descrever o local com a maior precisão que a memória proporcionar:

    Era uma casa de madeira, simples, e podemos dizer já bem danificada pelo tempo. Localizava-se numa ladeira, em meio a outras construções muito mais imponentes e belas. Com uma cerca feita de taquaras, com simples arames esticados, e bem mal esticados, davam uma aparência quase de não haver cerca alguma, sendo até as plantas entranhadas na cerca uma proteção maior contra invasores externos. No portão de entrada, sem pavimentação, apenas chão batido, dois cachorros a espera daqueles que fossem visitar a casa. Dois cães muito amáveis é verdade, tipo sem raça definida, o famoso vira-lata. Cheiravam e faziam festas a todos os que por ali passavam, funcionavam quase como recepcionistas. Alegres, recebiam um a um, e os acompanhavam até a porta de entrada da casa, onde ficavam olhando para dentro e abanando o rabo, só retornando para o portão quando o próximo visitante chegava.

    No interior da casa, a porta de entrada dava acesso a uma antessala, com dois sofás amplos. Seus revestimentos quase não existiam mais, mas poderiam ainda acomodar os corpos cansados e doentes que ali chegavam, pois pediam um descanso. Nas paredes, quadros de família misturados a imagens de santos católicos, padres, e bem ao centro o clássico “A Sagrada Família”. Apesar da simplicidade do local, a paz que ali reina é sem igual.

    Na sala da casa, que teve sua mesa de centro arredada em virtude dos trabalhos, uma cristaleira antiga. Nela, pratos e xícaras guardados em seu interior. Em cima, a imagem do Cristo ao centro, ladeado por Nossa Senhora; Padre Cícero; a Virgem da Conceição; Pai João e Mãe Maria (a imagem clássica de Pretos-velhos); o Caboclo Oxóssi; Pai Sete-flechas; São Jorge e um busto de Padre Réus. Este é o Centro de Umbanda Ogum guerreiro e Sete-flechas.

    Iniciaram os trabalhos. O dirigente, um simpático senhor, quase calvo, usava uma boina para esconder a calvície, algo que foi retirado de sua cabeça assim que o Guia baixou. Antes, porém, feita uma prece de abertura, a qual o dirigente fez com o rosário na mão e os braços abertos, mãos para o alto, de frente para o altar na cristaleira, chegou pela porta de entrada uma panela com brasas dentro, onde foram colocadas ervas secas para a defumação, e iniciou a cantoria: “Defuma com as ervas da jurema, defuma com arruda e guiné…”

    Todos nos defumamos, encarnados e desencarnados que assistíamos o trabalho. Nesse sentido, faço justiça ao número de pessoas que estava na sessão: eram aproximadamente umas 35 pessoas encarnadas, e algo que chegava a uma centena de desencarnados, entre nós, trabalhadores e àqueles que estavam ali em busca de auxílio. A casa pequena, tinha 6 cômodos ao todo, mas todos eles foram utilizados pelos trabalhadores do espaço para acomodar espíritos, tudo muito bem vigiado interna e externamente por uma equipe comandada por Sr. Tranca-ruas.

    O Guia que comandava os trabalhos nesta noite era Caboclo Sete-flechas. Ao chegar, caminhou lentamente na antessala, acompanhado de seu cambono, olhou atentamente a todos os presentes, onde indicou os que iria atender. Falou ao cambono que os outros competia ao Pai João curar. Após o Caboclo terminar seus atendimentos, o dirigente deu passagem ao amável Preto-velho, Pai João, que chegou e logo já solicitou o “pito”, algo apreciado também pelo seu médium. A sessão logo ficou mais descontraída, onde se ouviam mais conversas, e o Preto-velho era a voz que ecoava no terreiro, junto da criançada que brincava em torno da casa. O primeiro atendimento para Pai João já demonstrou o poder desta entidade: um senhor aparentando uns 35 anos, ostentava uma ferida em sua barriga e dizia já haver consultado diversos médicos sem êxito. O Guia pegou as mãos do consulente entre as suas, enrolou o rosário em ambas e sentenciou: “Se tens fé no Cristo, sairá daqui curado meu fio”! Fechou os olhos, fez uma prece e pediu um galho de guiné, ao qual benzeu o homem e disse: “Vá na paz fio. Vai fica bão”. O homem levantou-se meio atordoado, caminhou até a porta de saída e teve um enjoo forte, colocando para fora uma água de cor rosa. Os cambonos correram em socorro, acomodaram-no no sofá e lhe deram água. O Preto-velho prosseguiu como se nada estivesse acontecendo, pois já atendia outro consulente, uma jovem moça grávida que enfrentava problemas na gestação. O jovem permaneceu sentado, e logo o Guia pediu para que o chamassem. Disse o Preto: “Vê se agora o fio aprende, e para com os rabo de saia e cum vida de boêmio. Tá aí o resurtado. Mas toma chá de goiaba por 14 dia antes de deita que tu vai fica bão.”

    O jovem era casado — investigamos o caso depois — e guardava relacionamentos extraconjugais, onde uma de suas concubinas havia contratado um trabalho de magia para terminar com seu casamento. Porém, sua esposa, que também era espírita, recebeu uma blindagem e ele foi vítima em seu lugar. Estratégia usada pelo astral superior para salvar o casamento e regeneração do homem em questão. A lei de causa e efeito é implacável, e o jovem inconsequente ostentava aquela ferida em sua barriga apenas como um sinal externo de um mal muito maior, tanto em seu estômago quanto em seu espírito imortal, algo que foi curado pelo amor do Preto-velho, quase como uma intercessão do velho João em favor do encarnado. Note bem que tudo isso se produziu sem efeitos de pirotecnia, nem alardes por parte do Guia. A Umbanda trabalha na cantoria, porém, em silêncio.

    O Preto-velho despediu-se, colocou seu rosário pendurado em frente a cristaleira (ou congá), e chegou o Sr. Tranca-ruas. Pediu o defumador, foi até a antessala, onde apenas 3 pessoas encarnadas permaneciam junto a multidão de espíritos, e num gesto como de uma saudação, adentraram o recinto diversos falangeiros do Exu, que guiaram todos os espíritos presentes na casa. Alguns foram forçados é verdade, mas a maioria foi sem causar problemas. Permanecemos apenas nós, espíritos, visitantes e Caboclo Sete-flechas, além de Tranca-ruas. Enquanto defumavam a casa e os encarnados, uma falange da linha de Iemanjá adentrou o terreiro e terminou a limpeza astral. Estava encerrado o trabalho na tenda mais humilde que visitei por estes dias, contudo, a mais expressiva em espíritos de elevado grau e poder.