Tag: Umbanda

  • Diálogo inter-religioso

    Diálogo inter-religioso

    Elegemos o catolicismo e o protestantismo para estes comentários, pelo fato de serem as religiões com maior expressão na sociedade brasileira. As demais religiosidades, além de serem minoritárias, em especial se forem orientais, não guardam grandes problemas com a Umbanda.

    O espiritismo, que no Brasil se tornou religião, ainda presentemente tem alguns problemas com relação à Umbanda. Àqueles mais intolerantes com o fato de a Umbanda ter abraçado a doutrina de Kardec, esquecem que, o próprio codificador colocou a doutrina espírita como “Filosofia Espiritualista”. Kardec, ao que nos parece, jamais quis fundar uma nova religião.

    Segundo Kardec, qualquer pessoa pode ser espírita, independente da religião que professe, desde que creia na existência dos espíritos e na sua relação com o mundo dos encarnados. Portanto, nada impede que o umbandista seja espírita, estude e professe a doutrina dos espíritos codificada por Kardec.

    Quanto o catolicismo, sabemos que sua relação com a Umbanda não é pacífica, apesar de, na atualidade, com os movimentos sofridos no seio da própria Igreja Católica, a Umbanda não ser combatida pela ala mais progressista da Igreja.

    O protestantismo, por sua vez, é o combatente mais ferrenho da Umbanda. O advento do neopentecostalismo potencializou a rivalidade e os ataques a Umbanda e por extensão a todas as religiões afro-brasileiras.

    Nestes breves comentários, em verdade, temos que as religiões (sejam elas quais forem), são antagônicas, e dificilmente terão uma convivência pacífica, sem ataques umas as outras. Religiões são ideias humanas, e cada uma formula suas doutrinas e filosofias com base naquilo que creiam mais coerentes. Mesmo as religiões afro, neste rol imenso de práticas enquadradas nesta nomenclatura, têm ataques contínuos entre si — não somente em práticas diferentes, mas entre dirigentes de uma mesma religião, em discussões estéreis para saber qual sacerdote tem o ritual correto.

    Contudo, longe de estar aqui fundamentando o não diálogo inter-religioso (sendo que não acredito em tal diálogo honesto), creio que a liberdade dos seres humanos e o respeito a esta liberdade, pode ser uma saída justa e pacífica para tal problema.

  • Programas Conversas de Terreiro voltaram

    Programas Conversas de Terreiro voltaram

    A doutrina religiosa da Umbanda continua sendo construída. Faço esta afirmação baseado na doutrina Cristã, que levou vários séculos para se consolidar, e podemos dizer que, somente após o século XIII com Santo Tomás de Aquino, temos o cristianismo mais consolidado. Por certo, são muitos os Santos Padres que contribuíram para a solidez do cristianismo e da Igreja, porém, com São Tomás a doutrina Cristã foi colocada a luz da razão.

    A Umbanda, contudo, que conta apenas com pouco mais de um século de existência, apesar de beber nas fontes do cristianismo e da doutrina codificada por Allan Kardec, ainda carece de “santos” que façam o trabalho de solidificar uma doutrina coerente e que, como disse Kardec, possa “olhar a razão frente a frente em todas as épocas da humanidade”.

    Os programas Conversas de Terreiro, durante todo o tempo em que foram produzidos semanalmente (são mais de 320 horas de programas), contam como nossa humilde contribuição para o amadurecimento da doutrina, debatida exaustivamente entre a equipe do programa, que ouviu muitas vozes, e buscou dentro de nossas possibilidades algumas conclusões.

    Colocamos este acervo a disposição de todos, para ser ouvido quando quiser, com os programas sendo veiculados pela nossa Web Rádio 24h no ar. Esperamos sua visita e audiência.

    Um fraterno abraço. ACESSE A PÁGINA DA WEB RÁDIO AQUI

  • Maria Molambo traz mais uma história

    Maria Molambo traz mais uma história

    Estava tomando fôlego e em busca de inspiração para começar estes escritos. Escrever sobre os Guias, Mentores e Protetores de Umbanda sempre é um desafio, mesmo se convivendo com estes espíritos já a um bom tempo. O fato é que estas informações chegaram até nós. Como? Bem, isso é o que menos importa…

    – Salve moleque, vamos escrever?

    — Salve Senhora. Que bom servir, ser útil de alguma forma, meditava sobre isso para começar estes escritos! Claro, quando quiser.

    — Que bom ouvir isso. Esta é a maior realidade que podes refletir. Ser útil é saber sua missão na Terra. Muitos já me perguntaram: Como saber minha missão? Simples. Apenas pergunte a si: O que eu, e somente eu posso fazer e que fará a diferença no meio onde estou? Esta é, sem dúvida, a melhor forma de saber sua missão. Mas, vamos ao trabalho.

    Vou adverti-los que os fatos a seguir não serão completos, porque nem eu mesma os conheço – ou não tenho lembrança – por completo. Regressarei algumas reencarnações para entenderem todo o contexto. Saibam que o regresso a reencarnações passadas não é de acesso a todos os espíritos, limitados ao conhecimento de uma ou duas existências passadas, sendo outras bloqueadas e só sendo descortinadas com o tempo e conforme as necessidades. No meu caso, volto a encarnação que foi chave para toda minha decadência como espírito imortal, e a partir dela, todo um desencadeamento de encarnações posteriores que me foram impostas para saudar dívidas contraídas. Porém, o fato é que a cada nova encarnação, reincidia em erros já cometidos e o resultado eram mais dívidas.

    Pois bem, após este velho espírito tomar fôlego, vamos passear no Império Novo do antigo Egito. Parece estranho este jogo de velho e novo, mas para mim parece que foi ontem. Quando conseguirem adquirir esta noção, de que não sabeis quando iniciou e nem sabes quando terminará, será de grande utilidade para sanar vossas ânsias e medos, a verdadeira noção de eternidade.

    O ano era aproximadamente 1190 antes da era cristã. Permitam omitir nomes e datas exatas, não fará diferença. Eu era então uma grande sacerdotisa do deus Amon. Não era a rainha, esposa do faraó, não confundam. Esta, sim, possuía o título de mão divina, de esposa, adoradora do deus. Eu atuava como seu braço direito, ou, na linguagem atual, era sua suplente. Permitam acrescentar, que o propagado hoje com relação às religiões do antigo Egito não são tão fidedignas, mas posso afirmar que já nesta época, elas davam amostras de decadência. O verniz de alguma moralidade desmoronava com a mais fraca provocação, e a religião já não expressava todo o poder que ostentara em épocas mais remotas.

    Existiam ainda entre os letrados da época crenças particulares, que expressavam concepções elevadas e espirituais da Divindade, quase um mais puro monoteísmo. Concepção de poucos é verdade, mas suas ideias religiosas despertavam a ira tanto das massas quanto dos sacerdotes, apegados a concepção dos deuses. Enfim, se este existia, eles eram o ponto alto que o egípcio individual conseguia alcançar em suas concepções espirituais.

    Contudo, não era o meu caso, nem da nossa casta de sacerdotes e sacerdotisas. Ali a continuidade dos ensinamentos religiosos era mais aparente que real, externa, não interna. Imaginem quando estes ensinos chegaram a Roma. Lá, embora os primeiros imperadores construíssem templos nas linhas antigas e permitissem ser retratados nas roupas de faraó, fazendo oferendas a deuses que nem o nome poderiam pronunciar, eram os suspiros finais disso tudo, e o prenúncio do Salvador. Desculpem, me alonguei nisso, não tem importância, não é?

    – Tem, sim, nobre Senhora. Desculpe, mas me atrevo chamá-la assim. Quanto conhecimento hein? Quantas lembranças…

    — Não te acanhes. Senhora é respeitoso, e devemos respeito mútuo reciprocamente, vivos e mortos não? Vamos adiante!

    Por ser sacerdotisa de um culto que era extremamente sexual, acostumei-me a questão. Eu era alguém que realizava desejos e “desejos”, pois, coitado daquele que não cedesse aos meus. Fui concubina de muitos figurões da época. Ajudava-os com seus desafetos, fiz um punhado de gente fazer a viagem para o mundo dos mortos antes da hora, aliás, eu decidia a hora. Tinha o conhecimento do preparo de poções que envenenavam com muita facilidade, e bastava que um dos meus amantes solicitasse que era prontamente atendido. Por que fazia isso? Bem, não preciso dizer que esta situação não era lícita para mim como sacerdotisa. Arriscava-me em manter encontros com meus amantes, e acima de tudo, poderia ser severamente castigada por utilizar de meus conhecimentos para solução dos seus casos. Mas tudo isso, além da satisfação que sentia em ser importante e desejada, pois minha beleza sempre foi um atributo a meu favor, gozava de certas regalias. A sensação de poder que desfrutava fazia meu ego subir aos céus, e este, sem dúvida, é um caminho perigoso e sedutor. Presencio muitos de vós caindo nesta armadilha. Mas, o fato é que tramei a morte de muitos, inclusive de figuras importantes em Karnak. Tudo isso condenou-me ainda em vida e no pós-morte.

    Ainda encarnada, quando a beleza já não reinava em meu corpo como outrora, o desejo não satisfeito e a perca de posição, fizeram com que me sentisse a pior das mulheres. Os malditos piolhos que eram como ervas daninhas em nosso reino tomaram conta de mim. A depressão que passei a sentir, sem conseguir consertar as coisas com minha magia, fizeram com que uma ideia fixa se apossasse de mim. Acreditava que meu título de sacerdotisa me garantiria no outro mundo, e o suicídio parecia uma saída digna. Quanto engano… Eu havia feito tudo certo: Todos os ritos para garantia de minha entrada no mundo dos mortos foram devidamente feitos por mim antes de tirar minha vida, porém, ao finalizar o ato com um punhal, o desfecho foi outro. . .

    Continua…

  • A provável tenda de Umbanda mais antiga do RS

    A provável tenda de Umbanda mais antiga do RS

    Do blog Registros de Umbanda

    Na postagem Revendo a história do início da Umbanda, de 07 de maio de 2010, fiz o seguinte comentário sobre a provável tenda de Umbanda mais antiga do Rio Grande do Sul:

    “Resta, agora, descobrirmos se Otacílio Charão, antes de embarcar para a África, em 1916, frequentava a TENSP [Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade] ou alguma casa de macumba carioca. Se frequentava a primeira, então teríamos que o Centro Espírita Reino de São Jorge, fundado em Rio Grande, RS, em 1926, é outra tenda descendente da TENSP, mostrando uma relação entre as primeiras tendas de Umbanda e a antiguidade da TENSP sobre todas as demais.”

    Com essa indagação na cabeça, ressolvi pesquisar mais sobre o assunto, ams como moro bem longe o Rio Grande do Sul e conheço quase ninguém por lá, estava bem difícil encontrar algo a respeito de Otacílio Charão e do Centro Espírita Reino de São Jorge (CERSJ).

    Felizmente, por uma dessas agradáveis “coincidências” do destino, pouco tempo depois, no dia 08 de junho de 2010, recebi um comentário na postagem “Um pouco da história da Umbanda – parte 01”, onde o senhor SÍLVIO CRISTOVÃO TORRADA REIS me chamou a atenção por um grave erro que havia cometido lá a respeito do CERSJ.

    Graças a esse meu erro e a iniciativa do senhor Sílvio Reis em me corrigir, a quem fico profundamente agradecido, consegui novas informações bem interessantes sobre Otacílio Charão e o Centro Espírita Reino de São Jorge, que compartilho com vocês abaixo.

    Otacílio Charão era natural da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, tendo ingressado, por volta de 1916, na Marinha Mercante.

    Em 1926, Otacílio Charão abandona a carreira na Marinha Mercante e retorna ao Rio Grande do Sul, estabelecendo-se na cidade de Rio Grande, onde abriu uma fábrica de doces e balas.

    Ainda em 1926, Otacílio fundou o Centro Espírita Reino de São Jorge, que é, até o presente momento, a mais antiga tenda de Umbanda fundada no Rio Grande do Sul, tendo sido registrado em cartório em 1932.

    É bem provável que Otacílio Charão tenha vindo ao Rio de Janeiro, então capital federal, durante o seu período na Marinha Mercante, mas até agora ainda não consegui provar isso, muito menos que ele tenha frequentado a TENSP, a Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, a Tenda Espírita Mirim ou alguma macumba carioca.

    Apesar disso, pelas características do Centro Espírita Reino de São Jorge, é provável que ele tenha tido contato com a Tenda Espírita Mirim, mas isso é até o momento pura especulação minha. Vejamos, então, como eram as características do CERSJ.

    De sua origem até meados da década de 1970, o CERSJ seguia uma doutrina de Umbanda de Mesa Branca, com as seguintes características:

    • era proibida a utilização de quaisquer instrumentos de percussão;
    • os cantos só podiam ser acompanhados com o bater de palmas e/ou o pé no chão;
    • era autorizada a incorporação de apenas dois Exus, no caso as entidades Exu Tiriri e Exu de Manegum;
    • era proibido o uso de guias ou colares ritualísticos;
    • todos os trabalhos tinham início as 20:00 horas e encerravam-se à meia noite;
    • pessoas separadas ou divorciadas eram proibidas de fazerem parte do quadro de sócios ou de participarem na corrente de trabalhos mediúnicos.

    O uniforme adotado pelo CERSJ da sua fundação até meados da década de 1970 era:

    • para os homens: uma camisa branca contendo um distintivo formado por um ponto riscado e o nome do CERSJ logo acima deste; calça branca; cinto branco; meia branca e sapato de pano e flanela feito por alguns membros do CERSJ;
    • para as mulheres: vestido branco contendo um distintivo formado por um ponto riscado e o nome do CERSJ logo acima deste, com decote fechado e comprimento até cinco dedos abaixo do joelho; bombachinha (espécie de calça curta gaúcha) de tergal branco até debaixo do joelho; meia branca; sapato de pano e flanela feito por alguns membros do CERSJ;
    • para os meninos, que só eram permitidos na corrente por motivos de saúde: camisa azul, calça branca, um cordão amarrado na cintura e sapatos iguais ao dos homens;
    • para as meninas, que só eram permitidas na corrente por motivos de saúde: blusa rosa, vestido branco abaixo do joelho, um cordão amarrado na cintura e sapatos iguais ao da corrente, se fossem meninas.

    Além dessas características, o senhor Sílvio me informou que o CERSJ possui, desde a sua fundação, uma mensalidade utilizada para cobrir seus gastos, estando isento do pagamento da mesma todos os sócios carentes ou que se encontram em dificuldades financeiras.

    No caso da existência de algum sócio nessa condição, era feito um levantamento para descobrir os motivos do fato e, verificada sua autenticidade, os demais sócios eram concitados a ajudar a família necessitada com doações financeiras, de alimentos, roupas e/ou medicamentos.

    Em seus primórdios, o CERSJ não possuía uma sede própria para realizar suas reuniões, utilizando, para tal, a residência de um de seus membros a cada final de semana. Essa situação não perdurou por muito tempo, pois ainda em 1926 foi adquirido o imóvel que serve até hoje como sua sede, o qual está situado na Rua General Abreu nº 497, Cidade Nova, Rio Grande, RS.

    Na década de 1960, o senhor Jesus Penna Rey doou a construção da atual parte da frente da sede do CERSJ, o qual foi utilizado inicialmente para abrigar uma escola primária que funcionava em convênio com a Prefeitura Municipal da Cidade de Rio Grande, com esta cedendo a professora e aquele, o espaço físico e as carteiras escolares. Tal escola funcionou até a reforma do sistema de ensino municipal.

    Até o momento, essas são as informações que conseguimos a respeito do senhor Otacílio Charão e do Centro Espírita Reino de São Jorge, a mais antiga tenda de Umbanda do Rio Grande do Sul, da qual se tem conhecimento. Quem tiver mais informações sobre o CERSJ, por gentileza, deixe um comentário abaixo.

    E para não deixar dúvidas, somos profundamente gratos as informações e aos esclarecimentos prestados pelo senhor SÍLVIO CRISTOVÃO TORRADA REIS, que nos possibilitaram escrever essa postagem.

    Abraços a todos, Renato Guimarães.

  • Exu

    Exu


    As fitas gravadas por Lilian Ribeiro em entrevistas e discursos do próprio Caboclo das 7 Encruzilhadas são um verdadeiro tesouro da Umbanda, patrimônio a ser preservado para estudos e como forma de adentrar naquela realidade dos primórdios da Umbanda. Como já mencionamos, utilizamos aqui algumas transcrições, e sobre Exu sentenciou Zélio de Moraes em entrevista concedida a Lilian Ribeiro em 22 de outubro de 1970:

    Lilian Ribeiro: Sr. Zélio, é sobre o trabalho dos Exus. Existem Tendas que dão consultas com Exus em dias especiais além das consultas normais de Pretos-Velhos e Caboclos. Como o Sr. vê isso?

    Zélio: Eu sei disto, que há muitas Tendas que trabalham com Exus, eu não gosto porque é muito fácil se manifestar com Exu, qualquer pessoa médium, um mau médium se manifesta com Exu, basta ter um Espírito atrasado; ou também fingindo um Espírito, por isso não gosto e fujo disto, na minha Tenda não se trabalha com Exu por qualquer motivo.

    Lilian Ribeiro: Mas o Sr. não considera o Exu um Espírito trabalhador como todos os outros Orixás?

    Zélio: Depois de despertado, porque o Exu é um Espírito admitido nas trevas; depois de despertado, que ele dá um passo no caminho da regeneração é fácil ele trabalhar em benefício dos outros. Assim eu acredito no trabalho do Exu.

    Lilian Ribeiro: Não haverá casos em que outros Orixás vibrando em outras Linhas não possam resolver de imediato alguns problemas de filhos e, não seria o Exu aí o mais indicado para resolver, por estar mais perto materialmente, por estar mais aceito nos trabalhos materiais?

    Zélio: O nosso Chefe, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, nos ensinou assim, isto faz 60 anos, que o Exu é um trabalhador. Como na polícia tem soldado, o chefe de polícia não prende, o delegado não prende, quem prende são os soldados, cumprem ordens dos maiorais, então o Exu é um Espírito que se encosta na Falange, que aproveita para fazer o bem, porque cada passo para o bem que eles fazem vai aumentando a sua luz, de maneira, que é despertado e vai trabalhar, quer dizer, vai pegar, vai seduzir este Espírito que está obsedando alguém, então este Exu vai evoluir. É assim que o Caboclo das Sete Encruzilhadas nos ensinava.

    Lilian Ribeiro: De que modo o Exu é um auxiliar e não um empregado do Orixá ou vice-versa?

    Zélio: Eu não digo empregado, mas é um Espírito que tende a melhorar, então para ele melhorar ele vai fazer a caridade com as falanges, correndo em benefício daqueles que estão obsedados, despertando e ajudando a despertar o Espírito para afastá-lo do mal que ele estava fazendo, então ele se torna um auxiliar dos Orixás

    O entendimento que nos passa o pai da Umbanda Zélio de Moraes é de que Exu e Pomba-gira não são Guias espirituais, portanto, seu trabalho na Umbanda é particular, não sendo igual ao de Caboclo e Preto Velho, acrescentando ainda que a invocação dos Exus deve obedecer às regras rígidas, não sendo chamados por qualquer ocasião. Escolheram o trabalho caritativo para buscar sua ascensão, e prestam seus serviços junto as falanges de Umbanda como auxiliares de grande valia.

    Mestre Omolubá, em suas obras maestrais, legou-nos sobre Exu: A figura Exu – oriundo das plagas africanas – deixa de ser, na Umbanda, um componente enigmático, para firmar-se, com lógica e simplicidade, no esquema de uma comunidade astral extremamente operosa e responsável dentro dos limites impostos pelos mentores da religião de Umbanda.

    … Na Umbanda, a palavra Exu titula uma instituição do plano astral, conhecida como a central dos Sete Focos, composta por milhares de criaturas desencarnadas (branca, pretas, mestiças, atuantes em diversas profissões) que prestam serviços entre os planos físico e astral da nossa terra. Estão dispostos em categorias e recebem a colaboração de espíritos denominados “quiumbas”, que se aferram no trabalho pesado, no desejo natural de serem admitidos na poderosa organização Central dos Sete Focos. (Omolubá,2015, p. 149-150)

    Após estas referências de peso, inquestionáveis para nós meros estudantes de Umbanda, é tarefa fácil sentenciar que Exu e Pomba-gira na Umbanda nada tem de demoníaco ou seres desregrados, marginais do plano astral a serviço das trevas. Ora, todos umbandistas sérios reconhecem que Exu é um espírito que, apesar de ainda habitar os planos inferiores no astral está a serviço do bem e da caridade, operando ao lado dos Orixás e Guias de Umbanda. Os espíritos ascensionados que trabalham na religião precisam de auxiliares que tenham acesso aos planos inferiores, e uma certa liberdade para agir nestes locais. Exu e Pomba-gira sendo habitantes destes, portanto, são os tarefeiros indispensáveis na Umbanda.

    O mundo em que habitamos, o plano físico, é uma cópia imperfeita do mundo espiritual, nos ensinam os Guias de Umbanda. As estruturas deste mundo são cópias das existentes no outro. As obras do médium Francisco Cândido Xavier, psicografadas por André Luiz, como “Nosso Lar”, retratam bem este quadro. Estruturas existentes no mundo espiritual já a muito tempo, agora são realidades no nosso; muitas ainda virão. Pois bem, se os mundos são cópias um do outro, entende-se muito melhor o papel de Exu: quando de uma incursão policial para prender malfeitores em áreas dominadas pelo narcotráfico, pedimos ao juiz que o faça ou solicitamos aos policiais treinados para tal empreitada? No astral, quando os Guias solicitam a retirada e consequente prisão de espíritos malfeitores, ordenam aos Exus e Pomba-gira que o façam, pois são espíritos que habitam os planos inferiores e, portanto, conhecem o território e todos os seus perigos. São hábeis em capturar, prender e neutralizar as ações de espíritos decaídos que, quando aferrados em seus planos contra encarnados, podem causar desde pequeno mal-estar, até doenças as mais graves, não sendo diagnosticadas pela medicina tradicional. Influem em nossos pensamentos, levando ao desgosto pela vida e sugerindo o suicídio, causam apatias, nervosismo e uma gama de outros males, inclusive financeiros.

    O Exu e Pomba-gira de Umbanda, longe de serem aqueles que se vendem por uma garrafa de cachaça para causar estes males listados e muitos outros a nós, encarnados, são os que o combatem. Os espíritos decaídos, cultuados por outras modalidades religiosas, usam os nomes dos Exus de Umbanda para assim ganharem credibilidade frente aos incautos que vão em busca de seus serviços para ferir seus desafetos.

    Existem hoje tendas de Umbanda – se é que podemos as chamar assim – que adotaram o estilo de trabalho de outras religiões, que não são nosso objeto de estudo, e usam os Exus e Pomba-gira para finalidades nada nobres. Somos cientes de que os verdadeiros Exus de Umbanda já os abandonaram, e ficaram os velhacos e sorrateiros malfeitores do astral, utilizando os nomes dos Exus de Umbanda, cobrando vultuosas oferendas para supostos ataques aos inimigos encarnados do solicitante, e tecendo redes que envolvem os desavisados que pactuam com estes espíritos. Afirmamos que a Lei de Causa e Efeito é implacável para todos nós, encarnados e desencarnados.

    Dentro da Lei de causa e efeito, dizemos que também aqui a justiça divina necessita de executores, quando já exista um julgamento nos tribunais cármicos contra algum ser vivente, seja do mundo dos vivos ou dos mortos. Exu e Pomba-gira, sendo também executores do carma, aplicam a sentença já definida a quem se destina. Este fato muitas vezes levou alguns umbandistas a entenderem que estes espíritos causam perturbações, mas na lei que eles seguem e executam, se você pede que seja quebrada a perna de um irmão seu, Exu, que segue e executa a lei de causa e efeito, deve quebrar as duas suas. Portanto, Exu não é nem bom, nem ruim, ele apenas segue e executa a lei.

    Por outro lado, quando Exu está a serviço nas tendas de Umbanda, na prática da caridade e do bem, usa de seu livre arbítrio para esta prática, e como já mencionamos são espíritos em ascensão, em busca de crescimento e evolução e desta forma quitam dívidas anteriores com a lei, e galgam degraus em sua ascensão espiritual.

    Do livro: Umbanda, desafios e soluções, de Michael Pagno

  • Xangô, o patrono da Tenda 7 Raios

    Xangô, o patrono da Tenda 7 Raios

    Dia 29 de setembro, por força do sincretismo afro-católico, comemoramos o dia de Xangô Aganju, e no dia 30, onde é comemorado São Jerônimo no catolicismo, celebramos Xangô Agodo, este nosso patrono.

    Realizamos então uma homenagem a este Orixá no sábado, dia 28, em comemoração à Xangô Agodo. Como em todos os eventos umbandistas, sempre primando pela simplicidade e objetividade ritual, buscando maximizar o intercâmbio entre os habitantes dos dois planos. Nestas solenidades umbandistas, o ritual guarda ainda o objetivo de integração entre toda a comunidade de terreiro, tendo em vista o clima descontraído e alegre, mesmo com a presença dos Guias e Orixás presentes através da incorporação em seus médiuns. Dentro deste contexto, na qualidade de dirigentes da Tenda, parabenizamos o empenho de toda a família religiosa desta casa. Listamos a todos por ordem de Orixá:

    • De Bará: André (da Claudia) e Paulo(flamel);

    . De Ogum: André (da fabi), Adelar, Carlos(prof.), Jean, Luiz Ibe e Rafaela;

    • De Iansã: Bárbara, Claudia, Fabiana e Mirian;

    • De Xangô: Andréia (a chefe), Luiz Carlos, Nara e Paula;

    • De Odé: Cíntia (do adelar) e Juninho;

    • De Obá: Solange, Thanise e Tamyris;

    • De Ossain: Clênio, José Henrique e Silvana;

    . De Xapanã: Fabi(do posto) e Nediana;

    • De Oxum: Alessandra, Bernadete, Cleonice e Dani Matos;

    • De Iemanjá: Alessandra, Andréia, Lívia, Thaison;

    • De Oxalá: Cíntia (do jean), Jonas e Michael.

    Prestamos também um agradecimento especial à Tenda de Umbanda Ogum Yara, de mãe Renata de Oxum e Edmar de Odé, pela presença nesta homenagem, juntamente com todos os seus filhos espirituais.

    Festa para os Guias e Orixás de Umbanda, se bem compreendido, reflete sempre em alegria, bem-querer com o próximo, e amor pelo que se faz, guardando a certeza de que amamos a Deus e os Orixás fazendo o bem ao próximo.

    Axé!

  • A regeneração da humanidade

    A regeneração da humanidade

    Em conversa amigável com amiga que compartilha dos ideais espiritualistas, apesar de não ser espírita, divagávamos sobre pensamentos que são comuns, em todo aquele que de alguma forma cultua seu Espírito, em oposição aqueles que seguem as ideias materialistas. Em verdade, esta é uma conclusão que há tempos faz parte de minhas crenças, mas, como toda crença, é algo que faz parte de nós, ou como diz Ortega y Gasset, “as ideias se têm; nas crenças se está”. (ORTEGA. 1940, p.13)
    Todo ser, a partir do momento que descobre certas verdades, passa a não ter mais prazer em certas coisas do mundo. Dito de outra forma: ao descobrir que a maioria das coisas oferecidas pelo mundo não passam de ilusões, futilidades, ou simples coisas que nos são dispostas, muitas vezes com o intuito de nos distrair do verdadeiro sentido da vida; passamos a não querer mais, ou não sentir prazer, como a maioria dos seres viventes, em compartilhar de práticas, festividades, ou ainda de companhias, empenhadas em buscas de prazeres menos construtivos. Mais ainda: passamos a nos isolar do mundo de certa forma, buscando momentos de culto ao espírito e as coisas que podem elevá-lo aos céus, primando pela instrução sadia, o estudo das coisas sérias, e a oração como prática de toda hora, sendo oração não apenas o que se entende por oração, mas a elevação dos pensamentos a todo momento, conectados com a espiritualidade superior, em busca de inspiração e boas intuições.
    Como dirigente de um centro de Umbanda, afirmo que muitas pessoas hoje estão despertas para esta realidade, outras estão em vias de despertar, vivendo momentos de lucidez, mas ainda apegados as coisas do mundo; e outras ainda que não demonstram vontade – este um fator indispensável nesta conquista – em querer deixar as coisas do “velho mundo”, e despertar para os ideais do novo mundo de regeneração moral. Por certo ainda estamos todos vivendo o mundo de provas e expiações, mas já demonstramos, alguns de nós, o empenho no bem e a vontade inquebrantável de regenerar-se.
    Muitas pessoas confessam se sentir deslocadas, como que vivendo uma realidade paralela, outras até se perguntando se são elas o problema, pois sentem não fazer mais parte deste “velho mundo”, onde presenciamos a degeneração total da humanidade, das velhas instituições religiosas e dos governos, parecendo que estamos as vésperas do apocalipse; e perguntam então, o que está acontecendo? Poderíamos responder, em se tratando das pessoas que, sem dúvida, e de alguma forma, estão, sim, despertando para a nova era. O que acontecerá daqui a pouco? O mundo entrará em colapso? Sinceramente não sei, e creio que todo aquele que diga saber – salvo se não pertença ao mundo dos vivos – estará apenas colocando uma ideia, nada além disso.
    Tudo que sabemos é que a regeneração da humanidade se dará com uma revolução moral, de baixo para cima, com a adesão voluntária e consciente de cada um de nós, em oposição a todas as revoluções fracassadas impostas pelos homens, até hoje. Cedo ou tarde, todos serão chamados, contudo, como sentenciou o mestre: “Porque muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”. (Mateus, XXII: 14)