Tag: Umbanda

  • Ataques aos símbolos religiosos. A saga continua…

    Ataques aos símbolos religiosos. A saga continua…

    Para nós, umbandistas, Exu é o Orixá da verdade, o detentor dos princípios básicos da paz e da harmonia, aquele que regula a ordem, a disciplina e a organização, opostos da desarmonia, da desordem e da confusão, tudo o que estes eventos infelizes causam.

    Um provérbio iorubá elucida a respeito dessa atribuição deste Orixá: Olòótó ni òtá ayé — quem diz a verdade é inimigo dos seres. Este provérbio elucida porque Exu é visto por alguns como benéfico, outros como maléfico. O fato é que todo aquele devoto e iniciado para Exu tem o compromisso com a verdade, pois Exu é disciplinador, exige ordem e organização. Por ser iniciado para Exu, procuro sempre me pautar pela verdade, buscando ser disciplinado e guardando o principal atributo de Exu: a paciência.

    Referindo-me ao artigo publicado anteriormente, sobre os ataques aos símbolos religiosos na abertura dos Jogos Olímpicos na frança, não havia esperança — pelo menos para mim — de que houvesse alguma reação de religiosos pelo mundo, em especial da Igreja Católica, haja visto a postura do papa em tempos atuais. Contudo, houve sim reações, e foram as mais inusitadas. Listarei algumas:

    A conferência dos Bispos da Igreja Católica Francesa repudiou a releitura da “Ultima Ceia”, que exibe os doze apóstolos sentados à mesa com o Cristo. A obra é conhecida mundialmente, e a versão mais famosa é de 1497, de Leonardo da Vinci, e tradicionalmente mostra Jesus consagrando a Eucaristia.

    O bispo Andrew Cozzens, presidente do Comitê Episcopal dos Estados Unidos para Evangelização e Catequese, pediu aos católicos que respondam ao incidente com oração e jejum.

    “Jesus viveu sua Paixão novamente na sexta-feira à noite em Paris, quando a Última Ceia foi publicamente difamada”, disse Cozzens.

    O bispo alemão Stefan Oster chamou a cena de “Última Ceia queer” de “um ponto baixo e completamente supérfluo”. O arcebispo Peter Comensoli de Melbourne, na Austrália, preferiu o “original”, ao publicar uma fotografia da obra de Da Vinci no Twitter/X.

    Já o padre dominicano Nelson Medina afirmou que não assistirá a uma única cena dos Jogos Olímpicos. “Que repugnante o que fizeram zombando do Senhor Jesus Cristo e seu supremo dom de amor”, disse. “Eles são covardes; não mexeriam com Maomé.”

    O cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, também lamentou o ocorrido. “Para nós, cristãos, não se trata somente de uma obra de arte”, observou. “Ela retrata o Evangelho e o significado mais profundo e belo da Eucaristia. Será que o deboche a partir da Última Ceia não reproduz e reforça os preconceitos que se querem combater, fazem sofrer… Levaram a violências?”

    Assim, não se trata aqui de apontar grupos A ou B da agenda woke. Reafirmo que não tenho problemas com qualquer pessoa, aliás, não acredito que cor, raça, sexo etc. definam alguém. O que define uma pessoa são suas virtudes e atitudes. O lamentável disso tudo é o ataque a um símbolo religioso (e olha que não sou católico), mas sou cristão, e tenho profundo respeito pela Igreja Católica, que, como disse Chico Xavier, “é a mãe de nossa civilização”.

  • O ataque aos símbolos religiosos na abertura dos Jogos Olímpicos

    O ataque aos símbolos religiosos na abertura dos Jogos Olímpicos

    Dois homens se beijando, ‘drag queens’ recriando a Última Ceia e uma modelo trans: a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 incluiu referências à comunidade LGBTQIA+ (seja lá o que esta sigla signifique em verdade), e despertou no consórcio de imprensa as velhas narrativas de que “bolsonaristas” reagiram às demonstrações de diversidade.

    Não gostaria de escrever sobre este assunto, se a urgência assim não determinasse, porém, com vistas aos fatos, não posso deixar de comentar. Contudo, me precavendo a qualquer interpretação maldosa por parte daqueles que se fazem de desentendidos, deixo claro desde já não se tratar de preconceito a opção sexual de qualquer pessoa. Aliás, duvido muito que a maioria da comunidade gay faça coro a estas cenas patéticas da abertura dos Jogos Olímpicos.

    A cerimônia de abertura dos Jogos na França foram, no mínimo, desprezíveis e lamentáveis. Fico tentando entender o que drag queens e uma Santa Ceia encenada nos moldes da agenda woke têm em comum com jogos olímpicos, que deveriam ser uma integração, uma irmanação entre nações, um momento de paz e convivência com diferentes culturas e religiões. Porém, o que presenciamos foi, antes de mais nada, um ataque aos símbolos sagrados do cristianismo. Apenas como exercício de imaginação, por que o comitê organizador de tais eventos não o faz com os símbolos do Islã? Vale a reflexão. . .

    O que a agenda woke, muito bem representada pelo presidente da França, o esquerdista Emmanuel Macron procura com esta agenda é segregar, colocar uns contra os outros, fazendo com que se enfraqueçam mutuamente, destruir os pilares civilizacionais do ocidente, fazer com que o resto do mundo seja como seu próprio país, um festival de desastres e golpes, desde a famigerada revolução francesa, com a desculpa de estarem lutando pela liberdade e se opondo a opressão da religião e do imperialismo. Meu Deus, este discurso cheira a mofo!

    Pior ainda é ler as manchetes do consórcio de imprensa, todas iguaizinhas, parecendo já estarem escritas e prontas nos grupos de WhatsApp dos jornalistas. Será que não notam o ridículo que estão expondo?

    A Umbanda, como uma religião cristã, que reconhece em Jesus Cristo, Nosso Senhor, o Pai e Governador de nosso planeta, não pode ver com bons olhos o ataque aos símbolos cristãos. Por certo, não possuo a autoridade de falar pela instituição Umbanda, mas posso falar em nome da nossa comunidade de terreiro, na qualidade de sacerdote de Umbanda, e não posso deixar de repudiar o ataque aos símbolos religiosos cristãos.

  • Nem céu, nem inferno, nem umbral. Para onde vão os umbandistas após a morte física?

    Nem céu, nem inferno, nem umbral. Para onde vão os umbandistas após a morte física?

    Pergunte à maioria dos umbandistas de hoje se não receberam catequização, ao menos na infância. Sem dúvida, a grande maioria lhe responderá que sim. Talvez aí já esteja explicado grande parte das crenças e do imaginário de nosso público. Ainda imersos nas descrições clericais da vida pós-morte – sem mencionar o contexto protestante, que tudo faz para apagar a crença na imortalidade, supondo uma possível ressurreição dos corpos, parecida com os dogmas católicos; mas pior ainda: a graça mediante apenas a aceitação de Jesus, nem que seja no último minuto de vida terrena, mesmo que esta tenha sido uma sucessão de erros, pecados, desgraças alheias e tudo mais que o ser humano é capaz de cometer. O principiante umbandista, incapaz de estudar e aprender por si, apenas troca os nomes: deixa de temer o inferno, mas passa a temer o umbral, almeja o céu, que agora passa a se chamar Aruanda.

    O senso comum produz estas aberrações, propagadas pelos umbandistas, estes que deveriam ser os primeiros a mostrar sua crença firme na imortalidade. Contudo, a transferência natural destas crenças milenares, que pregam céus, infernos e purgatórios, onde o sofrimento impera e castiga, nos parecem naturais frente a uma doutrina que não tem mais de 115 anos.

    A filosofia umbandista, que tem na doutrina dos espíritos sua expressão, encontra naquele que foi o codificador, Allan Kardec, a explicação do próprio professor, que sabia ser necessário esclarecer minuciosamente o quadro do novo mundo espiritual que se descortinava. A obra “O Céu e o Inferno”, publicada em Paris, a primeiro de agosto de 1865, traz toda explicação. Porém, há uma particularidade pouco lembrada quanto aos dogmas da igreja. Segundo eles, o sofrimento dos infernos é físico, na pele mesmo. O condenado deve sentir o calor do fogo, o queimar das carnes, o penetrar dos tridentes, a pressão e o trucidar das correntes. Mas quando são enviados aos infernos, esses condenados ainda são – como explica Kardec quanto à concepção da igreja – sem corpo, pois esse morreu e se desfez neste mundo.

    Os condenados, presentemente no inferno, podem ser considerados puros Espíritos, uma vez que só a alma aí desce, e os restos entregues à terra se transformam em ervas, plantas, minerais e líquidos, sofrendo inconscientemente as metamorfoses constantes da matéria. (O céu e o Inferno, página 53).

    Não se pode esquecer-se desse processo, quando se trata da doutrina da igreja! No momento da morte, ninguém sofre ainda. Só depois, quando Deus destruir este mundo e, no juízo final, restituir os corpos, agora imortais, mas feitos igualmente de carne e ossos, para que o sofrimento no inferno seja físico, real, fisiológico. Desse modo, continua Kardec:

    “Os eleitos ressuscitarão, contudo, em corpos purificados e resplendentes, e os condenados em corpos maculados e desfigurados pelo pecado. Isso os distinguirá, não havendo mais no inferno puros Espíritos, porém homens como nós. Conseguintemente, o inferno é um lugar físico, geográfico, material, uma vez que tem de ser povoado por criaturas terrestres, dotadas de pés, mãos, boca, língua, dentes, ouvidos, olhos semelhantes aos nossos, sangue nas veias e nervos sensíveis” (Idem, ibidem).

    Aqui está o ponto fundamental deste artigo. A concepção dos infernos considera um lugar físico, material, semelhante ao mundo atual, todavia piorado. Não chega a luz do sol, não se percebe o suceder dos dias e noites, não há lua. Um cheiro insuportável de enxofre, fumaça, suor, sangue. Labaredas de fogo, caldeirões fumegantes. Desolação e sofrimento sem fim. É preciso considerar um Deus bastante vingativo que odeia muito aqueles que o desobedeceram para condenar alguém a viver eternamente nesse horror! É algo para se pensar à parte. Basta imaginar que uma inocente criança, simples e alegre em seu lar, nos braços de seus pais, cuidada com amor e carinho, mas que não tenha sido batizada! Arrisca, a coitadinha, de sair desse lar aconchegante e, depois do juízo, se ver sozinha, fugindo dos tormentos dos demônios, abandonada eternamente pelo seu criador!

    A doutrina espírita oferece uma explicação bastante diversa da vida após a morte. Primeiramente, o mundo espiritual é também um lugar físico, mas cujas propriedades são completamente diferentes de nosso mundo. Enquanto aqui, se colocarmos pessoas de personalidades diversificadas, como a mãe de Jesus, um bandido, Herodes, camponeses e um filósofo genial, todos numa sala, e fizermos uma fogueira enorme, todos irão suar de calor, não importa o quanto difiram moral e intelectualmente. Ao levarmos esse mesmo grupo para o polo norte, todos iriam sofrer um frio lancinante, igualmente. O corpo físico de todos nós reage da mesma forma, conforme o ambiente físico no qual se encontra. Esse raciocínio valeria caso a vida futura ocorresse, como a doutrina das igrejas cristãs imaginam o céu e o inferno. Os espíritos superiores ensinam, porém, que o mundo espiritual tem a particularidade de ser influenciado diretamente pelo que pensam e sentem seus habitantes. É o inverso de nosso mundo. Aqui, o ambiente influencia nosso corpo (lugar frio esfria o corpo). No mundo dos espíritos, segundo o espiritismo, o corpo espiritual tem a propriedade de ser mais denso e materializado, quando o espírito está apegado às emoções e imperfeições, e torna-se leve, tênue, alcança distâncias, pode transpor-se para outros planos, quando o espírito evolui intelecto-moralmente.

    Ou seja, um bom espírito ganha, pela constituição mesma de seu perispírito, a liberdade de agir, de ir e vir, de transportar-se pelos orbes. Enquanto isso, um espírito imperfeito, pela condição materializada de seu corpo espiritual, em virtude do padrão de seus pensamentos e sentimentos, tem reflexos das sensações materiais e vivencia as ILUSÕES do frio, calor, sede, fome, medo e tantos outros. São ilusões, mas com plena realidade pela subjetividade do próprio espírito, ao se manter prisioneiro de suas próprias escolhas! Quando uma diversidade de espíritos presos aos seus apegos, imersos na raiva, medo, vingança, inveja, materializam o perispírito e estão juntos, vão moldando o ambiente ao seu redor pela força de seu pensamento. Eles poderiam criar um ambiente agradável, belo, sublime até. Mas suas ideias fixas não deixam. Seus pensamentos densos criam ambientes escuros, pesados e desagradáveis. Mais ainda, não há um lugar onde os espíritos sofredores sejam jogados para sofrer. É o inverso. São os pensamentos e sentimentos densos, as imperfeições morais do próprio indivíduo, a causa do ambiente que ele cria para si.

    O mundo espiritual é imanente a este, é bom lembrar. Nós, encarnados, estamos vivendo em dois mundos ao mesmo tempo. Aqui, com o corpo físico. E no mundo espiritual, com nosso perispírito. Não faz sentido, então, nos preocuparmos com o lugar que iremos após à morte. O raciocínio é outro! Onde já estamos no mundo espiritual agora? Segundo nosso padrão de pensamentos e sentimentos, estamos sintonizados, ambientados, em determinadas condições espirituais. Quem tem raiva constante, materializa também o perispírito. Quem se desprende, permanece sereno, vive em cada momento sua emoção adequada. Não se apega aos fatos passados, revivendo emoções passadas. Esse mantém seu perispírito leve, suave, desmaterializado. Céu e inferno são criações pessoais de cada um de nós. São escolhas livres, regidas por leis naturais. A autonomia é o fundamento da vida.

    E como fazer para sair dessa situação difícil na qual se encontram muitos espíritos depois da morte? Há uma só saída: A vontade. Nenhum outro ser pode mudar o padrão de pensamento e sentimento do outro, só ele mesmo. Só muda quem quer mudar. Quando um espírito decide sair do sufoco e sofrimento que está vivendo, basta uma prece sincera a Deus, um apelo aos bons espíritos, e será imediatamente auxiliado, por alterar voluntariamente seus pensamentos! Não é preciso ficar absolutamente puro para mudar sua vida. Basta uma mudança em suas disposições morais, explicou Kardec. E isso está ao alcance de todos. Guarde esse ensinamento. Um dia ele poderá, certamente, lhe ser útil!

  • Dona Conceição, Ana Maria e Pomba-gira Maria Padilha

    Dona Conceição, Ana Maria e Pomba-gira Maria Padilha

    Conheci Conceição em meados do século XIX. Mulher séria, bela, fina e recatada. Em existência anterior, era de nacionalidade russa. Muito nova, foi iniciada na prostituição, algo comum na Rússia do século XVIII. As moças de famílias pobres, contando com pouco mais de 12 ou 13 anos, eram forçadas a trabalhar em casas do tipo para obter alguma provisão. Viviam uma vida parecida com mariposas, pois durante o dia passavam ou trancadas em quartos escuros nos prostíbulos – para não serem descobertas pela perseguição estatal – ou aventuravam-se nas ruas, disfarçadas, para tentarem chegar às suas casas e visitar familiares.

    Deixou o corpo físico nesta miserável existência aos 21 anos, acometida de sífilis. Confidenciou-me que, na ocasião, seu corpo foi desovado em sacos e destinado ao lixo comum, para não levantar suspeitas. Aliás, este era o destino da maioria das moças que se aventuravam a esta vida na “Mãe Rússia”.

    Reencarnou no Brasil do século XIX, uma carioca como eu; todavia, não com a mesma sorte. Conceição, mais uma vez, foi submetida à vida mundana à qual teve na pátria anterior.

    Nascida em berço de ouro, filha de coronel brasileiro, aventurou-se a amar quem lhe era proibido. Os casamentos arranjados da época eram quase sentenças às mulheres. Era preciso unir fortunas e expandir o poder familiar; este era o pensamento de então. Conceição foi desmascarada; seu amor proibido foi descoberto. Seu amante deixou a existência pela mão do carrasco empregado do coronel. Conceição foi expulsa de casa e deserdada da família, lavando assim a honra da mesma.

    Conceição desencarnou doente, mais uma vez, por febre e desnutrição. Brasileira de alma e coração, decidida a mudar a vida das mulheres, organizou no astral sua falange, para mudar este estado de coisas. “A família é importante, assim como o casamento” – nos diz Conceição. “Contudo, deve nascer do amor, da afinidade, do bem-querer, da renúncia de ambos, tanto do marido quanto da mulher. Casamento não nasce para dar certo ou errado. É uma construção, e como tal, deve trabalhar todos os dias para seu êxito”.

    Conceição ou Pomba-gira Maria Padilha é hoje a chefe de falange mais importante no plano astral, dentro da instituição Exu. Jamais conheci mulher de tanta coragem e fibra, comparada somente àquela que todos bem conhecem, principalmente os gaúchos de nossa pátria, chamada de Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus Ribeiro), a heroína de dois mundos. Espero um dia conhecê-la; ainda não tive este privilégio. Conta-se aqui que guerreava prenha, deu à luz sozinha, escondida no matagal à espera do marido, Guiuseppe, que levou dias para encontrá-la em meio à guerra. Ah, se as mulheres de hoje tivessem só um pouquinho das “Conceições” ou das “Anitas”. . . Que mundo melhor teríamos. . .

    Mui respeitosamente.

    Ana Rita.

  • O Caboclo Xangô 7 Raios

    O Caboclo Xangô 7 Raios

    Escrever sobre nosso Guia espiritual, no caso o Caboclo Chefe da Tenda de Umbanda Xangô 7 Raios, é uma tarefa de responsabilidade, e, ao mesmo tempo, de grande peso sobre os ombros. De responsabilidade devido à gravidade do que aqui vamos expor; de peso sobre os ombros pelo fato de haver a necessidade de ser o mais fiel possível ao nosso Guia espiritual.

    Meu primeiro contato com este Espírito se deu no início dos anos 2000, através da mediunidade de seu “aparelho” – nome pelo qual os Guias de Umbanda comumente chamam seus médiuns. Caboclo de nome pouco comum de encontrarmos nos terreiros, exerce um tipo de magnetismo especial naqueles que tem a oportunidade de receber um passe e consultar com este Espírito, apesar de Xangô 7 Raios ser de poucas palavras e direto nas suas colocações. Com relação a esta atração que seus consulentes sofrem, é um fato atestado por todos os que podem conviver com este Guia, sendo muito requisitado para consultas recorrentes por seus consulentes.

    Na exteriorização de suas manifestações, guarda um rosto levemente sisudo em seu médium, andando de um lado para outro com uma mão fechada sobre o peito, como se segurasse alguma coisa na mão. Aplica passes rápidos por vezes, outras de forma mais lenta (creio que seja pela necessidade do momento), mas sempre passes que guardam uma aparência de “pressa”. Digo esta palavra apenas para ilustrar seus trejeitos, e não que o referido Espírito realmente assim proceda, pois alguns de seus consulentes chegam a ficar por períodos superiores a um quarto de hora junto ao Espírito.

    Em relação às orientações e a forma deste Espírito governar nossa Tenda, posso afirmar que prima pela autonomia, pouco opinando sobre questões ritualísticas corriqueiras, apenas fazendo em questões mais sérias. Contudo, não guarda muita paciência se acaso suas orientações não são seguidas pela corrente mediúnica, sendo rígido em relação ao horário de início dos trabalhos, respeito às falanges que se manifestarão no dia, assiduidade das sessões e conduta moral dos médiuns. Algo que este Caboclo não admite é o cancelamento de uma sessão de caráter público, de atendimento aos necessitados. Segundo o próprio Espírito, não pode haver impedimentos para que os trabalhos não aconteçam, salvo por algum motivo de calamidade pública ou algo parecido. Nas palavras do próprio Guia: “não pode haver impedimentos que justifiquem a ausência dos trabalhos. A missão de socorro aos necessitados obedece ao lema aplicado aos verdadeiros médicos do corpo, o qual hauri do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti”:

    O médico, o verdadeiro médico, é isto; não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto o gemido que lhe chega aos ouvidos, a pedir-lhe, ao menos, o bálsamo da consolação, que já é de suma caridade. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, por ser alta noite, ou ser mau o tempo, ou ficar muito longe e muito alto o lugar para onde é chamado.” (Bezerra de Menezes)

    No tocante as forças espirituais que este Caboclo representa, segundo seus próprios ensinamentos, ele obedece à linha do Orixá Xangô, mas pode atuar como uma espécie de mensageiro dentro das outras 6 linhas, pois como seu próprio nome ostenta, tem autorização para trabalhar em todas as linhas de Umbanda (os 7 Raios).

    Caboclo Xangô 7 Raios é um Espírito de grande saber, profundo conhecedor da doutrina dos Espíritos, e percebe-se com facilidade que sua seara de trabalhos vai além da Umbanda. Apesar de não ostentar, lida com a magia de Umbanda de forma maestral, mas acima disso tudo, tem um profundo sentimento Cristão, e seu amor ao próximo, seja encarnado ou desencarnado transparece na sua egrégora.

    Um fraterno Saravá, e salve Pai Xangô 7 Raios.

  • A Pomba-gira e as mulheres

    A Pomba-gira e as mulheres

    Duas vozes discutiam na minha cabeça, apesar de não ver os interlocutores: – Vai menino, anota aí! — Mas quem está ditando sou eu!!! – Sim, mas quem está passando para ele sou eu!!

    — Epa, epa, espera aí. Se decidam gente; gritei em voz alta na minha mente – se é que isso é possível.

    – Viu como são as mulheres, menino? Sempre querem mandar em nós. Não aceita!

    – Você, seu latagão. Deixa que me entendo com o moleque! Faz tua parte e não te imiscui.

    – Vamos lá moleque, anota aí. Passa para o papel e publica. Vou te chamar de moleque tá. Este “ser” que é o periodista oficial, e que está preso no século XVIII te chama de menino, não é. Então, chamar-te-ei de moleque, tá bom?

    — Claro Senhora, como quiser. Explico: No início desta matéria, o periodista oficial do além que nos dita os textos, trouxe uma Senhora que também faz parte da organização dos Exus, e que também passará a nos brindar com seus comentários. A Sr.ª. Maria Molambo da Encruza. Porém, a moça que é um tanto tempestuosa…

    — Hoje estive passeando pelas ruas de vossa cidade. Cruzei com diversas pessoas que, apesar de perdidas, guardavam um brilho a mais no olhar. Estas, como se por um milagre, também suas vestes tanto espirituais, como as roupas em si tinham um pouco mais de decoro. Não gosto de mulheres vulgares, elas não sabem o que é ser mulher. Estas senhoras, as decorosas, as segui, estudei-as, e vi que antes de tudo seu coração estava onde deveria estar: Em Deus, nos filhinhos, no esposo, no lar e suas obrigações. Andavam pelos comércios, alguns risos com amigos, mas suas preocupações estavam em servir. Já repararam que as mulheres, apesar de não agirem com consciência hoje, mas por instinto sempre estão servindo?

    Mas também reparei em algumas indecorosas: suas mentes, assim como suas vestes espirituais e roupas tem algo sem pudor, são opacas como seus pensamentos, e apenas querem saciar seus instintos mais baixos tanto quanto possível. Se deixaram levar pelo espírito do mal destes tempos. Seu palavreado é chulo, cabelos esquisitos, roupas esquisitas. Unhas comparáveis àquelas da senhora La Voisin (famosa bruxa do século XVII), aliás comparáveis em tudo. Buscam a todo preço modificar o corpo, agem por ele e para ele.

    Moleque, não te assusta. Não tenho trava na língua. Se não suporta meu raciocínio, diz logo que vou embora. (A moça não é de brincadeira. Foi apenas a sensação que tive, e a distinta senhora captou. Que espírito é esse que lê pensamentos e capta sentimentos?)

    — Descrevi algo sobre a mulher porque quero dizer quem é Pomba-gira: não escreveram já que somos a sedução, o “poder” feminino? E os idiotas que escreveram isso acham que poder feminino vem do sexo apenas? Do poder de sedução? Ah, santa paciência me é necessária! Inclusive, alguns pensadores que vocês dão honras e glórias, que são quase contemporâneos meus de quando encarnada, não legaram que os escolásticos nos viam como inferiores? Quantas coisas distorceram, quanta mentira. Não é à toa que um deles, e fiquei sabendo nas bandas de cá (a escritora se refere ao astral) que Michel Foucault disse ter mentido mais que o diabo. Quanto trabalho teremos, quanto trabalho…

    Prestem atenção: Pomba-gira é apenas uma corruptela que inventamos, só isso, porque não podemos mais utilizar nosso nome de encarnadas quando passamos a atuar na Umbanda. É da lei de Umbanda isso e lei se cumpre, não se discute nem se interpreta a bel-prazer. Está escrito e sancionado. Já confessei que me chamei quando encarnada Ana Rita, apenas porque me foi permitido e tem um propósito maior, que entenderão logo, não hoje. Pomba-gira representa o poder da intercessora, da mulher em sua plenitude de mãe e provedora da família. Sabem o que é isso? Não sabem né, seu tempo não quer mais esta instituição, então a mulher deve ser destituída de seu cargo legado por Deus. Querem uma nova mulher, aquela que é apenas o objeto de satisfação, que tenta imitar o homem, pois quer prover o alimento, o que não é sua atribuição; quer independência, o que não é o projeto do Criador, pois um complementa o outro, homem – mulher.

    Estamos para Exu, assim como Exu está para nós. Somos a representação da instituição que vocês querem dispensar. Sabes quantos filhos tenho aqui no astral? Sabes que tenho marido? Sabes que provenho família, além da família de encarnados que guardo na terra? Quem tem Pomba-gira e Exu, que realmente os cultua e tem, possui a plenitude da família.

    Guardo as mulheres que buscam ser mulheres plenas, ajudo aquelas que querem mudar, intervenho nas famílias desestruturadas e vibro aquilo que meu nome de guerra me inspira: MARIA Molambo. Me inspiro em Maria Santíssima, peço a interseção dela em meu favor, para que eu seja instrumento da Mãe da humanidade. Não somos promíscuas. Nós Pomba-giras de Umbanda somos mulheres que querem o bem das mulheres. E entendam, mulher é sinônimo de santidade, de renovação da vida, de continuidade da espécie humana. Mulher é companheira, criada para andar ao lado do homem, nem a frente, nem atrás, a provedora da família. O homem é provedor do alimento, tanto para o corpo como do espírito. O lar de um casal onde encontramos no escritório do esposo, uma mesa extra ou o cesto de trabalho da esposa, onde o amor sabe planar e ficar em silêncio, é uma imagem de trabalho daqueles que comungam da vida no espírito. Ah, na vida dos cristãos há tantas belezas, tanto amor e felicidades a se colher. Sabe, realmente não entendo mais os encarnados, espero ainda ficar um bom tempo do lado de cá.

    Com lembranças particulares, Maria Molambo.

    — Pronto menino, a Senhora já foi. Encerramos aqui esta edição.

    Como intérprete permaneci pasmado. Também fiz parte até hoje daqueles que imaginavam Pomba-gira representar apenas a sedução. Obrigado Molambo.

  • O Espírito obsessor

    O Espírito obsessor

    Aguardava meu parceiro astral para mais um encontro. Já se passavam das 22 horas de uma noite fria. Aliás, hoje é primeiro de agosto, a lua cheia ilumina de maneira a desentenebrecer a noite. Acendo um cigarro, o silêncio impera…

    – Boa noite, demorei a chegar? Ah!ah!ah!ah! Como tem passado?

    — Salve minha comadre – a voz que ouvi era feminina, porém, esperava meu velho parceiro, o jornalista do além “A Noite” – bem, muito bem. Esperava outra pessoa, mas reconheço a voz.

    – Sim, sou eu, Maria Molambo. Trouxe comigo uma conhecida. Na verdade, nos conhecemos a poucos dias, de maneira quase forçada, se é que me entende. Ela vai esclarecer algumas coisas, e eu vou lhe ditar menino. Faça as anotações.

    Logo percebi que Maria Molambo referia-se a algum espírito obsessor, uma marginal do astral, e por algum motivo trazia esta pobre irmã, carente que é, na verdade, para nos brindar com uma mensagem.

    – Não importam nomes, apenas sou alguém que me deixei levar pelo espírito dos tempos modernos. Fui adestrada – este é o melhor termo – para trabalhar do outro lado, perturbando a vida dos que continuam presos a carne. São presas fáceis, e temos todo o mundo, ou melhor, todo aparato do mundo da matéria do nosso lado. Àqueles que pensam que a magia negra ainda é o problema deste século, estão muito enganados. Vou lhes contar meu modus operandi:

    Não precisamos mais direcionar leituras ou algo do tipo para afastar alguém de Deus. Isso até fazia sentido há alguns séculos, quando as pessoas ainda tinham algum senso de lógica. Ora, naquela época, as pessoas sabiam muito bem quando algo tinha sido provado logicamente e quando não; e quando tinha sido provado, elas criam de verdade. Elas ainda faziam associação entre pensamento e ação, e estavam dispostas a mudar seu estilo de vida em decorrência de ideias racionalmente encadeadas. Vocês são imunes a argumentação, então facilita-nos o trabalho. A imprensa diária e outras armas do tipo, todas, salvo exceções, já dominadas por nós, a serviço das trevas, nos trazem completo domínio da situação.

    A grande massa do seu tempo está presa no fluxo das percepções imediatas, e as questões universais estão longe. Não precisamos perder tempo argumentando em vossos pensamentos, já são nossos os vossos. Já não conseguem mais distinguir em “verdadeiro” ou “falso”; vocês apenas entendem o jargão. Esses processos, dos quais são vítimas, os iniciamos há séculos, quando os fizemos caminhar sem Deus, e fizemos de tudo para que o humanismo dominasse as mentes certas. A era da razão, o homem como centro de tudo, e agora o novo deus. As leis criadas por Deus já não eram mais necessárias, não é? Conseguimos. O vosso “show business”, os intelectuais, formadores de opinião, professores de todas as cátedras, artistas, e mais uma infinidade de idiotas do vosso tempo estão a nosso serviço.

    Agora, na fase que estamos, a revolução sexual alcançará o ápice. O alvo é a extinção da família e de todo o respeito, além é claro de deixar os perdidos mais perdidos, pois não terão nem para onde voltar após os desastres finais. Todos serão idiotas úteis, e que depois serão descartados até por nós. E veja bem, nosso trabalho é tão perfeito, que temos todo aparato dos Estados conosco, a opinião pública; científica (esta inclusive está sendo um braço armado, e bem armado); assim como das religiões, inclusive a vossa. Quantos sacerdotes você acha que se salvarão? Pois é, acho que se a arca de Noé fosse reconstruída, faltariam tripulantes humanos.

    — Já chega, – sentenciou Maria Molambo – você percebeu menino a tranquilidade que isso é narrado e descrito por essa gente?

    – Estou perplexo, minha Senhora. É quase inacreditável, no entanto, sinto a familiaridade com nossos tempos.

    – Vamos encerrar por aqui. Arrisquei-me em trazer ela até nossa redação. Foi dominada recentemente, juntamente com outras companheiras de jornada obscura, e continuam sendo procuradas por outros de suas falanges. Vou levá-la de volta para sua cela, onde vou oferecer-lhe um tratamento estupendo, onde em breve ela será uma madre, ah!ah!ah!ah!

    – Obrigado Senhora por arriscar-se para tão nobre tarefa. Rogo a Deus para que este esforço não seja em vão.

    Que o Senhor nos abençoe.